Prezados,
escrevi esse texto nos anos 90 e causou uma boa repercussão na época, o que
me deixou muito feliz. Passeando por arquivos localizei o artigo e republico 14
anos depois para perceber as mudanças e novas reações. O texto é original não
havendo quaisquer alterações!
"O sonho de Adhemar (com h mesmo) era cursar uma
faculdade. Em tempos outros, movidos por apelos familiares ou pelas
perspectivas locais, quando nosso cenário era o interior, os conceitos de
sucesso indicavam carreiras em grandes empresas nacionais ou multinacionais, no
Banco do Brasil e na Caixa Econômica. No rol de alternativas acadêmicas,
Engenharia, Medicina e Direito. Sentia-se angustiado de tanto ouvir falar,
desde os seus 14 anos, que o máximo que conseguiria em sua cidade seria
trabalhar em um banco ou na Prefeitura. Resolveu vir à capital. Começou a
trabalhar em uma grande empresa metalúrgica do segmento de autopeças, uma das
mais antigas e conceituadas empresas da capital. Reiniciou o segundo grau e tão
logo terminou, ingressou na faculdade. A partir daí, planejaria e investiria em
seu desenvolvimento profissional.
A empresa metalúrgica, de origem familiar, como a
grande maioria das empresas brasileiras à época, vivia às voltas com a abertura
de mercado, concorrência internacional, qualidade total, avanço dos movimentos
sindicais e processos de reengenharia.
Dona Sílvia, chefe do recrutamento da empresa,
psicóloga avessa a testes e gabaritos, era uma profissional de Recursos Humanos
que rompia barreiras adotadas pelo cômodo comportamento acadêmico e desenvolvia
processos seletivos por meio de entrevistas, dinâmicas e observações pessoais.
Gostava de criar e validar variações em torno de conceitos consagrados e de
alcançar grandes vôos em formulações e ensaios psicológicos.
Adhemar participou de um destes processos de
recrutamento interno e foi indicado para a vaga que estava em aberto na
empresa. Ingressou na área de Relações Industriais, atuando no chão de fábrica.
Com esforço e empenho pessoal, em pouco tempo, Adhemar se tornou o responsável
pela área. Hábil negociador, movimentava- se com desenvoltura e credibilidade
junto à comissão da fábrica e o sindicato. Implantou um clima de respeito mútuo
e melhorou todos os canais de comunicação da empresa.
Graças ao terreno arado e cultivado por Adhemar,
programas de compromisso e engajamento com a qualidade total, trabalho em
equipe, células de trabalho, aumento da produtividade e outros temas de gestão
foram sendo implantados pouco a pouco.
Em uma manhã qualquer de um inverno não muito
distante, a direção chegou na fábrica animadíssima com uma turma de
engravatados, convencidos que fariam na metalúrgica uma vencedora revolução
industrial. Empreendedor que era, Adhemar se animou com os engravatados. Vindos
de salas de aula e de escritórios climatizados, valorizavam em demasia os
certificados de origem e o pedigree educacional. Trocaram uma boa leva de
profissionais que não possuiam o trade mark determinado: do chão de fábrica ao
escritório gerencial. Foi-se o Adhemar. Falava apenas o metalurgês. He don´t
speak english !
Selecionados pelos engravatados sem a participação
da Dona Sílvia, um exército de recém-formados cheios de boas intenções invadiu
a metalúrgica, ditando palavras de ordem e determinando comportamentos e
posturas, conforme recomendação do quartel general.
Em certa ocasião, o novo presidente resolveu
participar de uma assembléia na fábrica e pela primeira vez tentou falar o
metalurgês. Em sua concepção, quanto mais palavrão melhor. Durante uns 15
minutos foi um palavrório só. Terminada a sua aparição, a assembléia permaneceu
muda, enquanto aguardava a sua retirada estratégica do palanque.
Depois de contínuos e mal sucedidos planos de
laboratório, estratégicas acadêmicas, do "Está escrito nos livros..."
e "Do I know, I know", a metalúrgica sucumbiu. Foi vendida para uma
empresa multinacional. Alguns meses depois, nenhuma sombra dos engravatados de
outrora e de seu exército de brancaleone.
Concluímos, daí, que nenhum pensador é uma ilha!
A harmonia e o perfeito equilíbrio da eficácia
(viabilizador) com a eficiência (pensador) é fundamental em qualquer processo
que busque um mínimo de sucesso.
A gestão por competências, formulada há 50 anos
atrás (em nossa terra surgiu como o efeito “Anhanguera”), é um dos processos
mais aclamados e também criticados pelos especialistas em gestão de pessoas e
de empresas. Mas o fato é que num mundo altamente competitivo, no qual os
detentores do conhecimento precisam ser motivados e desenvolvidos em busca de
resultados, o processo tradicional não atende mais às necessidades.
De forma mais ampla, refinada, investigativa e
sustentável, todo esse processo saiu do universo de RH e passou a ser um
mecanismo chave de transformação das empresas. Representou um passo à frente
para uma gestão integrada dos recursos humanos. As competências entraram na
agenda do primeiro executivo e a área de RH passou a freqüentar a sala do
presidente. Gestão de competências deve ser vista como a capacidade da empresa
de colocar em ação o banco de conhecimentos disponível, as habilidades
necessárias e a aptidão potencial de seus colaboradores. Tudo isto alinhado aos
objetivos, às estratégias e à capacidade que a própria empresa tem de assegurar
mercados atuais e atingir mercados futuros, mantendo-se competitiva.
Dominando o metalurgês, Adhemar abriu uma
consultoria de Gestão Organizacional, mesclando a sua equipe com pensadores e
viabilizadores, com conhecimento de chão de fábrica. Hoje, sua consultoria vai
de vento em popa. Dona Sílvia , sua sócia, que o diga...
Portanto, se você se considera um ótimo profissional
viabilizador em sua área de atuação, mas ainda não domina outro idioma ou,
ainda não pôde fazer um curso de MBA, não se desiluda. Conviva com os
pensadores. Juntos, certamente, vocês serão um dos diferenciais competitivos de
sucesso em qualquer empresa. Aprenda outro idioma de forma natural e continue
freqüentando cursos de atualização profissional e cultural. Mas tudo isso com
prazer. Sem obsessão. Não queira ser tudo ao mesmo tempo. Tanto vale o que você
aprende quanto o que te ensinam. Saboreie uma pipoca!"
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
CA&RH Consultoria Ltda.
Remuneração - Gestão de Desempenho - Competências
(11) 99323 - 7923
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