terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O fim do emprego!

Este artigo foi postado no começo de março de 2009 aproveitando a "volta às aulas".
Julgo oportuno uma releitura com nova visão e com o aprendizado decorrente dos dois últimos anos.

Emílio Odebrecht - Folha de São Paulo - 01/03/2009

Nossos jovens universitários estão voltando às aulas. Isso me lembra que o principal desafio das instituições educacionais no mundo atual é oferecer aos estudantes a base que lhes permita transformar cada instante da vida profissional futura em uma oportunidade de aprendizado, de participação e de autodesenvolvimento, que é uma condição para o crescimento de cada um e das empresas às quais servirão.

Nesse sentido, as universidades precisam formar indivíduos críticos, capazes de conferirem riqueza, inovação e versatilidades às organizações que os atraiam, enquanto, simultaneamente, concretizam os planos de vida e de carreira que formularam para si próprios. Indivíduos que não tenham uma atitude passiva perante a própria história, porque o emprego e o salário cada vez mais deixarão de existir.

A nova economia não admite nem assalariados nem patrões. As empresas estão em busca de empresários dos conhecimentos, das habilidades e das competências que dominam, capazes de fazer acontecer, exercendo a liberdade com responsabilidade.

Isso significa que as oportunidades de trabalho estarão reservadas para quem tenha sido preparado não para obedecer ordens, mas para conquistar e satisfazer clientes e, como autêntico parceiro, se autorremunerar por meio de parte dos resultados que produzir.

Os resultados gerados têm que ser maiores do que as necessidades de sobrevivência da empresa e de quem os gerou, de modo que o excedente possa servir ao crescimento de ambos e à criação de novas oportunidades de trabalho, sedimentando ciclos de crescimento orgânico que se traduzam em processos contínuos de renovação de lideranças e de sucessão de gerações.

O que as organizações que atuam em ambientes negociais cada vez mais complexos e competitivos esperam é que seus futuros integrantes sejam preparados para ser protagonistas de atos e fatos que façam diferença, impulsionados pelas próprias forças e pela força das circunstâncias, com pensamento global e ação local, decidindo com eficácia e fazendo com eficiência, dotados de criatividade embasada no conhecimento e na intuição e de uma visão otimista do futuro.

Ao formar essa nova geração, nossas universidades atuarão como agentes de emancipação pessoal, estimuladoras da autonomia produtiva e vetores de uma nova consciência que refuta o tradicional conceito de emprego, altera o padrão de dependência do trabalhador perante o mercado e transcende as visões estreitas que preferem apostar no anacrônico conflito entre o capital e o trabalho.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Às Elites e Novas Classes!

Fernando Antônio Gonçalves - Jornal do Commercio, 02.02.2011

Quando aconteceram as tragédias na área serrana do Rio de Janeiro, poucos dias depois de um romper de ano com uma queima de fogos para turista nenhum botar defeito, a reflexão de uma norte-americana inteligente me inquietou sobremaneira: “É como se a sociedade continuasse a fazer festa no andar de cima enquanto os alicerces da casa desmoronam a seus pés”. A frase é de Naomi Wolf e está contida no às vezes não muito didático livro O Fim da América, RJ, Record, 2010. Ela é uma consultora política militante das causas feministas, para quem “jornalistas no Brasil e na Argentina sabem exatamente qual a diferença entre publicar um jornal em regime de liberdade e publicar o mesmo jornal com alguém os vigiando sobre os ombros”.

Do texto da Naomi, voltado para o leitor norte-americano, algumas boas lições podem ser de bom proveito para ampliar a criticidade da gente brasileira, buscando favorecer aqueles que há muito se distanciaram dos problemas brasileiros, mais interessados que estão em deslumbramentos internacionalizantes que dão cinco minutos de notoriedade, pouco se lixando para a erosão dos direitos sociais coletivos e a destruição do equilíbrio institucional por um Congresso Nacional de maioria emporcalhada.

Atualmente, as classes sociais brasileiras possuem elementar saber histórico, este não fazendo parte dos seus cardápios existenciais, porque desatrelado integralmente de fatos e feitos egolátricos. Inclusive porque muitos segmentos, integrados neles o lumpemproletariado da análise marxista, todos com interesses numa sociedade conservadora, solapando os inadiáveis momentos de integração nacional.

Como sempre sonho alto e ainda estupefato com as “demências burocráticas e decisórias do setor público” e as “culturas de fingimento e promessas recheadas de hipocrisia” praticadas por ocasião das catástrofes brasileiras, as recentes e as dos anos passados, explicito como deveriam ser os Dez Mandamentos que acelerariam o caminhar do Nordeste na direção da implementação efetiva de uma estratégia de desenvolvimento sustentável:

1. Não ser revolucionário apenas esquerdeiro;
2. Não confiar nos que expõem soluções mirabolantes e respostas definitivas;
3. Não temer, em momento algum discutir, criticar, discordar, debater e projetar amanhãs;
4. Não fingir dialogar, transparecendo espírito amargo e dogmático;
5. Respeitar as instituições legislativas e judiciárias, jamais permitindo, pela omissão e ausência de “chicotadas analíticas”, que elas resvalem para a área “coisas bolorentas e inúteis”;
6. Entender que o recrudescimento do ativismo de aparentes minorias é reflexo das necessidades de um novo sistema de produção;
7. Difundir sempre que os conflitos na sociedade são mais que necessários, são desejáveis, posto que alertadores para futuros menos injustos;
8. Incentivar acordos e convenções mais imaginosos, sensíveis às necessidades em rápida evolução das minorias mutantes e em expansão, legitimando a diversidade;
9. Jamais menosprezar as ainda tênues influências populares, impossibilitando sempre que algumas lideranças tiranizem as demais.
10. Compreender e difundir que nem toda descentralização política é garantidora de salutar prática democrática.

Reitero, aqui, o pensamento do empresário Belarmino Alcoforado: “A velocidade de uma caravana é a do camelo mais lento”. Todo cuidado é pouco, então, para não se montar neste camelo. Importando aqui ressaltar que a velocidade é uma variável ímpar na superação dos umbrais historicamente ultrapassados.

Os anéis e os dedos de todos estão a depender da vontade política de participar de todos. O ditado “pimenta no abre-te-sésamo dos outros é refresco” está pairando sobre gregos e troianos. A hora é de muito refletir para um agir rápido e consistente, solidário e não-suicida. A Copa do Mundo do 2014 sendo apenas uma agulha no palheiro, anestésica apenas.

Fernando Antonio Gonçalves foi Secretário Estadual de Educação e Cultura de Pernambuco e é pesquisador aposentado da Fundação Joaquim Nabuco, hoje integrando o seu Conselho Diretor. Também integra o Conselho Diretor da Fundação Gilberto Freyre. Também é articulista do Jornal do Commércio de Recife/PE.