segunda-feira, 29 de junho de 2020

RHECADOS BEM DADOS - A VACA E A PANDEMIA!


Um velho mestre acompanhado de um discípulo resolveu visitar a mais pobre das aldeias da região em seu país. Lá chegando, dirigiu-se a um casebre acanhado e tosco.
Mestre e discípulo se viram em uma sala pequena onde moravam pai, mãe, quatro filhos e dois avós. Apesar da miséria, a família contava com precioso bem: uma vaquinha, que fornecia um pouco de leite que mal dava para alimentar a todos.

O pai, mesmo humilde, era acolhedor e por isso convidou o mestre e o discípulo a se ajeitarem dentro do possível, vindo a passar a noite com eles. No outro dia, bem cedo, saíram, furtivamente, e para não acordar ninguém, o mestre disse em voz baixa ao discípulo: Está na hora da lição!

O mestre, diante do olhar atônito do jovem, deu uma adaga ao discípulo, ordenando que ele degolasse a vaca, o mais depressa, sem nenhuma explicação!

Que lição posso tirar dessa situação? A família não tem nada e ainda perde o pouco que tem ? Perguntou indignado o rapaz.

Vamos voltar para casa, respondeu secamente o mestre.

Anos se passaram, entre uma viagem e outra, o discípulo ainda sentia remorso por aquela inesquecível lição do mestre e resolveu voltar à aldeia, procurando aquela pobre família. 

Chegando perto, avistou de longe a colina, onde ficava o casebre, e olhou espantado, contemplando, uma bela casa no lugar daquele o antigo casebre.

De certo, após a morte da vaca, ficaram tão pobres e desesperados que tiveram que vender a propriedade para alguém mais rico, pensou o discípulo.

Aproximou-se da casa e entrando pelo portão viu um criado e lhe perguntou:

Você sabe para onde foi uma família de cinco pessoas que vivia aqui antes?

Sim, claro! Eles ainda continuam morando aqui! Estão ali nos jardins, disse o criado, apontando com o nariz em direção à frente da casa.

O discípulo caminhou no rumo indicado e pôde ver um senhor altivo, brincando com três jovens bonitos e uma bela mulher. A família, que estava ali, não lembrava em nada aquele pessoal simples, acanhado, que ele e seu mestre haviam visitado tempos atrás.

Quando o senhor avistou o discípulo reconheceu-o de imediato e o convidou para entrar.

O discípulo depois dos tradicionais cumprimentos procurou saber melhor como tudo havia mudado tanto ali desde sua visita anos antes:

Depois daquela noite em que vocês estiveram aqui algum invejoso degolou a nossa vaca, único sustento! As pessoas nos respeitavam porque éramos trabalhadores honestos, além de ter um pouco de leite! Quando vimos a vaca morta soubemos que estávamos em dificuldade e que a única saída era reagir! Foi o que fizemos logo! Limpamos o quintal da casa, conseguimos algumas sementes e plantamos batatas e legumes. Percebemos que a horta produzia mais que o necessário e começamos a vender. Com o dinheiro obtido compramos mais sementes e acabamos arrematando a casa da frente para termos mais espaço e assim plantarmos mais e mais...

Enquanto o orgulhoso homem continuava falando o discípulo se deu conta de que durante todo aquele tempo a vaca não havia sido apenas o único bem daquela família. Na verdade era também a corrente que mantinha as pessoas presas a uma vida de conformismo e mediocridade.

Que todos consigam afastar a vaca que atrapalha suas vidas e tenham um belo recomeço pós pandemia!
Autor Desconhecido


quarta-feira, 24 de junho de 2020

RHECADOS BEM DADOS - A cenoura, o ovo e o café


Ao chegar em casa depois demais um dia de trabalho, a filha se queixou ao pai sobre sua vida e de como as coisas estavam difíceis para ela. Já não sabia mais o que fazer. Estava cansada de lutar e combater, pois assim que resolvia um problema, logo outro aparecia. Tão ou mais complicado. 

Seu pai, mestre-cuca de renome, ouviu o desabafo, conduzindo-a até a cozinha onde trabalhava. Lá, encheu três panelas com água e as colocou em fogo alto, a fervura logo acontecendo. Na primeira pôs cenouras, na outra ovos, na última duas colheres de pó de café. Após vinte minutos, desligou tudo, espalhando as cenouras numa tigela, os ovos num prato fundo, o café acolhido por um bule pequeno.

 Percebendo a perplexidade da filha, indagou: - Querida, o que você está vendo? Cenouras, ovos e café, respondeu ela sem pestanejar, continuando atônita. Pediu que a filha experimentasse as cenouras, notando a jovem que elas estavam macias. Depois, cumprindo nova solicitação, descascou um ovo, verificando que o mesmo se tornara endurecido após a fervura.

Ainda sem entender o que o pai fizera, a jovem questionou o significado daquilo. E o mestre, com a serenidade dos que sabem fazer a hora, disse-lhe que a cenoura, o ovo e o pó de café haviam sofrido a mesma adversidade, a fervura da água, muito embora cada um tivesse reagido de um modo totalmente diferente.

A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de submetida à fervura, amolecera e se tornara frágil. O ovo, por sua vez, possuidor de uma casca que protegia o seu interior líquido, viu sua estrutura interna tornar-se rígida após a fervura. E o pó de café, depois da fervura, havia transformado a água.

- Qual deles é você? perguntou o pai à filha. Complementou: - Quando a adversidade lhe bate à porta, como você responde? Como uma cenoura, um ovo ou o pó de café? E arrematou: Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade murcha e se torna frágil, perdendo a força? Ou você será como o ovo, que começa com um coração maleável, mas depois de uma falência ou demissão, se torna difícil, sua casca continuando a mesma, embora seu interior endurecido? Ou será que você se comporta como o pó de café, que muda a água fervendo que lhe provoca dor, para conseguir o máximo de sabor a 100 graus?

Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornarem piores, você se tornará ainda melhor, para que tudo ao seu derredor possa ficar muito mais bonito. A escolha é sua.


Moral da história

- Somos nós os responsáveis pelas próprias decisões. Cabe a nós, somente a nós, decidir se a suposta crise irá ou não afetar nosso rendimento profissional, nossos relacionamentos pessoais, nossa vida, enfim.

Ao ouvir outras pessoas reclamando da situação, ofereça uma palavra encorajadora. Confie que você tem capacidade e tenacidade suficientes para superar os desafios que te impõem.

"Uma vida não tem importância se não for capaz de impactar outras vidas".

RHECADOS BEM DADOS - Ninguém nasce pronto!


Ninguém nasce pronto. Para tornar-se um Ser Humano o mais completo possível, profissional e pessoalmente, cultive o discernimento com maturidade, possua gosto elevado e inteligência aguçada para todas as coisas.

Estude muito por meio de muitos, sempre fazendo do conhecimento seu melhor companheiro. Nunca abra a porta para o menor dos males, posto que os demais estão por detrás dele. Não se esquecendo de que até as lebres puxam as barbas de um leão morto, nunca brinque com a sua coragem. Só o verdadeiramente superior vê em dobro.

Dizer não é tão importante quanto saber gostar de todas as boas coisas. A compreensão de um amigo vale mais que apenas a boa vontade de muitos. Amigos sensatos afastam as mágoas, os tolos acumulam. Os que mais se orgulham de suas proezas são os que menos têm motivos para tanto. Contente-se em fazer, deixando os comentários para os demais. Um espírito frouxo prejudica muito mais que um corpo fraco. Seja antes de ter. 

Jesuíta espanhol Baltasar Gracián em 1647


quinta-feira, 11 de junho de 2020

A empregabilidade pós pandemia!


Estamos quase na metade do ano e ainda nos assustamos com o advento de uma pandemia originária na China denominada Corona. Creio que os chineses no começo não sabiam da extensão, proliferação e gravidade do vírus. Devem ter pensado o mesmo que um ex presidente nosso disse na crise financeira de 2008, uma marolinha. Uma gripezinha devem ter pensado. A tal gripezinha tomou um vulto tão grande que abalou o mundo inteiro que ainda busca a vacina da salvação. Bem, o objeto desse artigo não é a pandemia, mas sim, a empregabilidade pós pandemia.

Muitos profissionais de diversos níveis de formação e de diversas áreas e faixas etárias começaram o ano novo à procura de emprego ou ocupados em manter o emprego atual ou fontes de trabalho. A estes, se junta a massa de trabalhadores em busca do primeiro emprego. Bem ou mal a economia vai se recuperando.

Aí veio a instalação oficial do novo vírus em nosso país e com a necessidade de isolamento social centenas de lojas, escritórios, serviços de alimentação e empresas foram fechadas em todo país. Como resultado, desemprego em massa. E agora? Até os encantados da geração Y estão em tempos de calmaria. Os que sobreviveram ao emprego estão trabalhando em casa afetos a comandos e controles de gestão e gerenciamento.

A turma acostumada a viver, conviver e superar tantos momentos de crise no país afirma que já viram esse filme antes. Não, não viram.

O pessoal de Recursos Humanos que sofreu para manter-se equilibrado e preservar a motivação e harmonia das equipes quando seus diretores e presidente receberam a visita da polícia federal vão ter muito trabalho pela frente. Não existe mais zona de conforto!  

Com certeza o emprego deverá ser reinventado. Como manter-se competitivo num mercado onde todos precisarão, assim como você, manterem-se competitivos? 

Voltando no tempo, os quesitos de uma carreira bem sucedida centravam a dedicação, lealdade e paciência para percorrer degrau a degrau, a hierarquia da empresa. A experiência era a principal referência de êxito. Combinavam a acomodação pela espera, a dependência do emprego, a resistência às mudanças e o salário determinado pela empresa. Nos anos 90, funcionários e empresas começaram a abandonar a ideia do carreirismo e dos chamados “edifícios para sempre”. O grau de escolaridade passou a ser a principal referência de êxito. Combinavam a confiança, o “ser” político, a criatividade, o ajuste às mudanças, a competitividade, o salário negociado com a empresa e a aquisição de conhecimentos baseada na teoria acadêmica.

O novo século passou a sustentar a contratação de funcionários com alto potencial de êxito, assegurar que estes novos colaboradores recebam o monitoramento necessário para desenvolver este potencial, definir um sistema de avaliação para fornecer a retroalimentação necessária para alcançar um desenvolvimento excelente e permitir focar nos conhecimentos, habilidades e atitudes que necessitam para alcançar os objetivos da empresa. Tudo muito bonito. Você é o dono da sua carreira.

Como será a empregabilidade durante e pós pandemia?

Muitos postos de trabalho de vários níveis estão sendo perdidos para a geração que os ocupavam. Na volta às atividades comerciais, industriais e consultivas novas competências deverão surgir. O novo funcionário será moldado pela postura e envolvimento nos processos de mudanças que virão e pela capacidade de aprender a reaprender. Gestão de Pessoas deverá fazer do conhecimento sua maior competência e romper com passados que não retornarão mais. 

Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Aposentado e Sempre Independente
São Paulo / SP

terça-feira, 2 de junho de 2020

A Terra é redonda - não se pode ir à esquerda demais!


Um excelente artigo do Professor Fernando Gonçalves. Anos atrás assisti uma palestra sua em um congresso de RH em Recife, cidade em que vive. O evento saiu muito da "caixinha" e provocou diversas vezes a platéia, não acostumada a ouvir palavras e mensagens que não lhes fossem favoráveis. Foi um dos primeiros contestadores do universo RH. Me lembro que entre outras mensagens de igual teor, pediu para todos deixarem de praticar a cultura do fingimento (finge-se que a área vai bem, finge-se que toda a empresa respeita, finge-se que as atividades sempre vão de encontro às necessidades dos trabalhadores e por aí vai). Segue o artigo e boa reflexão!



"Outro dia, um não muito distanciado dos atuais, excessivamente plúmbeos, o escritor
Umberto Eco, jornalista e professor de semiologia da Universidade de Bolonha, romancista de sucesso e consagrado autor de O Nome da Rosa, também de O Pêndulo de Foucault, foi entrevistado pelo jornal francês Le Monde. Sem papas na língua, denunciou uma estupidificante indiferença moral diante dos extremismos políticos que estão proliferando no mundo inteiro, mormente os de extrema direita. Para ele, as categorias "direita" e "esquerda", radical dicotomia de quarenta anos atrás, não são mais compatíveis com os instantes históricos do agora , dadas as novas circunstâncias das atuais realidades sociopolíticas.

As últimas três décadas, aceleradamente evolucionárias, não devem provocar indiferença nos portadores de uma criticidade avessa a dogmatismos e ortodoxias. Distinções esclerosadas costumam "cegar", obstaculizando reflexões desapaixonadas, desestabilizando emocionalmente os mais jovens e os menos experientes. Ou os que, aturdidos pela velocidade da História, postulam a validade de tudo, nada recusando, tudo sendo permitido, as regras morais mais salutares não mais servindo como balizamentos comportamentais de posicionamentos políticos, táticos e estratégicos.

Defende Umberto Eco, com a responsabilidade de ser um intelectual de renome internacional, a missão de todo ser-pensante: delinear os limites entre o tolerável e o não-tolerável. Segundo ele, não há "nenhuma verdadeira diferença entre os ‘skinheads’ e os neonazistas de hoje e os nazistas da geração anterior". E vai além: "Continua sendo a mesma forma de imbecilidade e de atração pelo mal, o mesmo ódio pelos outros e o mesmo desejo de destruição".

Num país onde a ética comportamental é ridicularizada pelos que apregoam cinicamente saber levar vantagem em tudo, o pensamento desalienante deve merecer um esforço continuado, redobrado mesmo, para poder discernir entre o que se encontra ultrapassado, obsoleto, e o que é moderno, atualizado, contemporâneo. E, ainda, o que foi considerado errado no passado e o que continua errôneamente sendo feito nos dias de hoje, numa aldeia global de múltiplos e cada vez mais interdependentes contextos tribais.

Acredito que nós, brasileiros, nordestinos, pernambucanos especialmente, temos uma obrigação cidadã muito acima das agruras do cotidiano: o direito de desconfiar das posturas políticas enganosas e das ruidosas esculhambações sectárias dos messiânicos. O dever de  persistir  reconstruindo os fatos históricos do nosso ontem sob um prisma revisionista é característica maior de todo historiador cientificamente idôneo, que não se permite resvalar para os negativismos analíticos das conjunturas nunca estáveis. O próprio Umberto Eco, em sua memorável entrevista, declara que "a Terra é redonda: não se pode ir à esquerda demais". E explica: a força de perseguir a ideia mais extrema, a mais provocadora, a mais "inovadora", acaba por dar a volta e se ver situada na extrema direita. Os exemplos são centenas ao nosso derredor.

Preguiça, ignorância e incompetência, definitivamente, não são armas para quem busca transformações sociais consequentes e duradouras. George Orwell costumava dizer que os jovens intelectuais de classe média vão para a esquerda por desemprego, sempre cobrando dos outros aquilo que não podem oferecer. Por aqui, os mais exaltados são alguns fronteiriços, já efetivados nos seus cargos públicos.

Numa conferência recente, alguém escreveu num flanelógrafo: “quando quiser saber alguma coisa sobre jóias, não pergunte ao alfaiate, pergunte ao joalheiro”. Eis o caminho mais realista, menos prejudicial, mais consistente. Com apenas um porém: o consultado deve ser bom, mais que muito bom, ótimo, inspirador de muita confiança, conhecedor pleno de uma realidade, a da sua especialidade. Com os seus derredores."


*Fernando Antonio Gonçalves foi Secretário Estadual de Educação e Cultura de Pernambuco e é pesquisador aposentado da Fundação Joaquim Nabuco, Membro da Academia Recifense de Letras. Também integra o Conselho Diretor da Fundação Gilberto Freyre. Também é articulista do Jornal do Commércio de Recife/PE. Editado em 2012