Matéria editada pela Revista Época em 2012 e que
efetivamente vale a releitura!
A educação moderna exagerou no culto à autoestima – e
produziu adultos que se comportam como crianças. Como enfrentar esse problema?
Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino
médio dos Estados Unidos, a Wellesley High School, em Massachusetts, estavam
reunidos, numa tarde ensolarada no mês passado, para o momento mais especial de
sua vida escolar, a formatura. Com seus chapéus e becas coloridos e pais
orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o discurso do professor
de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como sempre nessas ocasiões, uma ode
a seus feitos acadêmicos, esportivos e sociais. O que ouviram do professor,
porém, pode ser resumido em quatro palavras: vocês não são especiais. Elas
foram repetidas nove vezes em 13 minutos. “Ao contrário do que seus troféus de
futebol e seus boletins sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough
logo no começo. “Adultos ocupados mimam vocês, os beijam, os confortam, os
ensinam, os treinam, os ouvem, os aconselham, os encorajam, os consolam e os
encorajam de novo. (...) Assistimos a todos os seus jogos, seus recitais, suas
feiras de ciências. Sorrimos quando vocês entram na sala e nos deliciamos a
cada tweet seus. Mas não tenham a ideia errada de que vocês são especiais.
Porque vocês não são.”
O que aconteceu nos dias seguintes deixou McCullough
atônito. Ao chegar para trabalhar na segunda-feira, notou que havia o dobro da
quantidade de e-mails que costumava receber em sua caixa postal. Paravam na rua
para cumprimentá-lo. Seu telefone não parava de tocar. Dezenas de repórteres de
jornais, revistas, TV e rádio queriam entrevistá-lo. Todos queriam saber mais
sobre o professor que teve a coragem de esclarecer que seus alunos não eram o
centro do universo. Sem querer, ele tocara num tema que a sociedade estava
louca para discutir – mas não tinha coragem. Menos de uma semana depois,
McCullough fez a primeira aparição na TV. Teve de explicar que não menosprezava
seus jovens alunos, mas julgava necessário alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes,
pude ver como eles crescem cercados por adultos que os tratam como
preciosidades”, disse ele a ÉPOCA. “Mas, para se dar bem daqui para a frente,
eles precisam saber que agora estão todos na mesma linha, que nenhum é mais
importante que o outro.”
A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer
apenas mais um desses fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele
tocou numa questão que incomoda pais, educadores e empresas no mundo inteiro –
a existência de adolescentes e jovens adultos que têm uma percepção totalmente
irrealista de si mesmos e de seus talentos. Esses jovens cresceram ouvindo de
seus pais e professores que tudo o que faziam era especial e desenvolveram uma
autoestima tão exagerada que não conseguem lidar com as frustrações do mundo
real. “Muitos pais modernos expressam amor por seus filhos tratando-os como se
eles fossem da realeza”, afirma Keith Campbell, psicólogo da Universidade da
Geórgia e coautor do livro Narcisism epidemic (Epidemia narcisista), de 2009, sem
tradução para o português. “Eles precisam entender que seus filhos são
especiais para eles, não para o resto do mundo.”
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