Quando nos anos 70 ainda não existiam gurus no mundo dos
negócios Herbert Simon, brilhante pensador de organizações, escreveu que a
racionalidade é limitada, frustrando os que supunham que o homem pudesse, a luz
do cérebro desenvolvido, dar conta de múltiplas operações cognitivas,
simbólicas e afetivas. Ouvimos, enxergamos e pensamos limitadamente – eis o
fato escancarado por Simon! Na verdade, ele abrira caminho para outro pensador
surfar nas ondas do limite humano, o americano Malcolm Gladwell, autor de “O
Ponto da Virada”, sujeito grifado no mercado editorial da literatura de
negócios.
Gladwel revela alguns achados. Por exemplo, que o homem pode
identificar apenas seis tipos diferentes de som ao mesmo tempo – além disso, a
percepção embaralha. O mesmo vale para a visão, olfato e audição, artefatos
limitados da raça. Ou seja, não vemos, cheiramos e ouvimos tudo aquilo que
supomos. Essas são restrições naturais dos humanos, aquilo que a psicologia
cognitiva apontou como capacidade de canal. Nessa linha, uma das explicações
oferecidas é que o homem e os primatas possuem uma parte do cérebro (neocórtex)
com tamanho maior do que de outros mamíferos. O estudo concluiu que isso se
deve ao tamanho dos grupos.
Os antropólogos teriam inferido que existe um número
simbólico de 150 relações que um indivídulo pode dar conta, o que limita, por
exemplo, a capacidade de cultivar amigos. No máximo poderíamos tecer, cuidar e
alimentar até 15 amizades. Mais do que isso, haverá uma sobrecarga que o
cérebro, coitado, não tem competência para gerir. Assim, se alguém pertence a
um grupo de 15 amigos terá de gerenciar relacionamentos com 14 deles, sem falar
nas 190 conexões derivadas dessa rede. Segundo o estudo, isso é incompatível
com o tamanho do cérebro. O máximo que se pode gerenciar são 150
relacionamentos – fruto das tais 15 amizades. A propósito, antropólogos apontam
que os membros de tribos caçadoras primitivas de várias regiões do mundo chegam
próximo a 150 ingtegrantes e que o total de soldados numa unidade militar fica
nesse parâmetro também... há séculos.
Os dados revelados por Gladwell definitivamente não são uma
boa notícia para o mundo em que vivemos, marcado por gigantescas redes de
contatos, em especial para a turma da geração Y, hoje na faixa dos 25 anos. Ao
navegar nas redes sociais como o orkut, facebook, linkedin e twitter
frequentemente deparamos com gente que ostenta com orgulho as cifras de suas
conexões: 200, 300, 400, até 600 contatos.
Mas, afinal, o que pode explicar o limite de uma rede social
desse porte? Eu não sei o que Gladwell responderia, mas imagino que uma das
explicações aceitáveis deriva de um fato simples: conexão não é comunicação.
Conexão tem relação com velocidade, instantaneidade, multiplicidade. Já
comunicação entre indivíduos pertence ao continente da arte, pois exige tempo,
contato face-a-face, profundidade, escuta, atenção, relação, percepção.
Enquanto a conexão remete ao universo infinito e virtual, a comunicação nos
convida a um olhar e estar - aqui e agora - no vasto território do outro. A
comunicação é arte lenta e pressupõe ouvir mais do que falar, processar informações,
selecionar significados, atribuir valor, eleger caminhos. Conexão exige acesso,
comunicação é processo. Portanto, caro leitor, se você tem mais de 150
conexões, abra os olhos. Você pode estar vencendo a batalha da conectividade,
mas, definitivamente, a qualidade única e original do ser comunicativo que lhe
habita empobrece... velozmente.
Artigo editado no Jornal Zero Hora de Porto Alegre por
Marcello Vernet de Beltrand
Jornalista, Mestre em Administração e sócio da Wiker
Comunicação
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