Muito bom artigo de Lucy Kellaway, jornalista do Financial
Times. Não há famílias no mundo corporativo e nem amigos de verdade. O que
existe são bons ou maus colegas de trabalho. Via de regra, não importa quanto
tempo você trabalhou em uma empresa, podem ser 10 anos ou 1 mês, o fato é que
quando você é desligado (demitido ou demissionário) sua imagem e lembrança não
duram mais que uma semana, um mês talvez. Nunca utilize o clichê mais “atraso
de vida” que já foi expressado: era feliz e não sabia. Siga em frente, dê novos
rumos à sua vida, seja feliz por si próprio!
No mês passado, quando o Google gastou US$ 3,2 bilhões em uma empresa de alarmes que detectam fumaça, Larry Page declarou que a equipe da Nest era formada por ótimos sujeitos e que ele estava "entusiasmado em dar-lhes as boas-vindas à família Google".
A conversa mole soou estranhamente familiar. Há pouco mais
de dois anos, quando o Google acertou a compra da Motorola Mobility por US$
12,5 bilhões, ele alardeou o mesmo tipo de boas-vindas aos cerca de 20 mil
funcionários da empresa adquirida. "Estou ansioso para dar as boas-vindas
aos 'Motorolans' a nossa família de 'Googlers'", disse na ocasião.
Na semana passada, a empresa provou como cuida bem de suas
crianças recém-chegadas. Sem cerimônia, vendeu a empresa de telefones celulares
para a Lenovo, empurrando os desprezados Motorolans para outra família adotiva
(embora mantendo as valiosas patentes da Motorola). A ideia, tão querida por
Page e pela metade mais melosa do mundo empresarial dos Estados Unidos, de que
os funcionários são de alguma forma parte da família é uma das metáforas mais
ilusórias da vida profissional moderna.
É verdade que há certas similaridades entre uma família real
e a "família" do trabalho. Os membros das duas passam muito tempo
juntos. Em ambas, provavelmente há alguns valores compartilhados e certas
aversões comuns. Pode até haver semelhanças físicas. Os membros de uma família
real podem, hereditariamente, ter queixo para dentro, enquanto em uma família
postiça, os funcionários podem submissamente usar blusas com capuz apenas porque
o chefe também o faz.
Em outros aspectos, a metáfora é enjoativa, pouco sincera e
totalmente falsa. Para começar, é errada em termos de tamanho. Posso dizer que
entendo algo de famílias grandes. Meu marido tem seis irmãos. O Google,
contudo, tem 46 mil funcionários. Ninguém pode ter tantos irmãos, ou mesmo,
primos em terceiro grau.
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