* Fernando Antônio Gonçalves
Benjamin Barber é teórico político de renome internacional, é Membro Sênior Distinto da Demos e Presidente da CivWorld (Demos), organização não-governamental internacional que patrocina o Dia da Interdependência e o Projeto Paradigma. Foi Professor de Ciências Políticas (Walt Whitman) da Universidade de Rutgers por 32 anos, e em seguida, Professor de Sociedade Civil (Gershon e Carol Kekst) na Universidade de Maryland.
"Quando
necessito restaurar minhas energias espirituais, exausto das baboseiras
religiosas, eleitoreiras e sociais que circulam nestes tempos fingidos, onde
todo pilantra é bonzinho, o mundo é lindo e tudo sairá bem no final da novela
Avenida Brasil, depois de múltiplas fornicações, fingimentos de penca e chifres
pra tudo quanto é lado, além da Suelen toda boazuda e sempre safadérrima,
resfolego-me numa leitura não-abestada, inteligentemente cutucadora, escrita
por gente que sabe o que pensa e pensa sem se incomodar com os ibopes dos
jumentálicos, adjetivo tão ao gosto da Lúcia Pontual, arguta pesquisadora
social e ex-companheira de trabalho da sempre saudosa Fundação Joaquim
Nabuco.
Numa das minhas últimas aulas de Desenvolvimento
Gerencial na FCAP, um atento aluno, inteligência
diferenciada dos que se imaginam apenas “univelsitários”, fez menção a um livro
que o deixou bastante mais antenado profissionalmente. E no feriadão último,
por ocasião das comemorações de uma Independência ainda a carecer de muitos
atributos sociais, políticas públicas sementeiras e posturas éticas
consistentes, me dediquei ao livro que me deixou mais diferenciado dos
cotidianos vivenciados nos últimos tempos. Editado em 2009 pela Record e de
autoria de Benjamin R. Barber, um teórico político internacional renomado, o
livro tem um título incomodatício: Consumido – como o mercado corrompe
crianças, infantiliza adultos e engole cidadãos.
O autor dedicou toda sua vida a comprovar “como o
etos infantilista priva a sociedade de cidadãos responsáveis e substitui bens
públicos por mercadorias privadas”. Etos são hábitos e costumes fundamentais
que caracterizam uma determinada era civilizacional. Hoje, o consumismo se
apresenta como uma forma tardia de capitalismo, sendo ele o principal
responsável pela atual crise econômica mundial, onde os consumidores estão
sendo atraídos mais pela imagem que pela função do produto.
Diante das gritantes desigualdades sociais do
planeta, Barber diferencia dois tipos de consumidores: o pobre do país em
desenvolvimento, com múltiplas necessidades e sem meios de satisfazê-las; e o
rico dos países desenvolvidos, com muito dinheiro, mas sem ter mais onde
gastar. E ele analisa as causas pelas quais “o capitalismo atual não se baseia
mais na produção de mercadorias, mas na produção de necessidades”. E aponta as
prováveis consequências para os nossos filhos e para nossa incipiente
cidadania, oferecendo iniciativas de resistência sobre como “transcender à
esquizofrenia cívica que o consumismo disseminou”.
O livro do Barber é composto de três partes. Na
primeira, O nascimento dos consumidores, ele analisa o capitalismo triunfante e
o etos infantilista, relembrando de sopetão a sempre lembrada reflexão do
apóstolo Paulo (1Co 13,11), quando ele ressalta que, como homem, tinha
abandonado as posturas infantis. Na segunda, ele analisa a infantilização dos
consumidores, a ostentação idiótica, a homogeneização das aquisições
hedonísticas, provocando o fim da diversidade. E na última parte, ele indaga se
o capitalismo tem cura e como se pode restaurar a cidadania num mundo
crescentemente interdependente. Uma leitura imperdível para não-alienados."
*Fernando Antonio Gonçalves foi Secretário Estadual de Educação e Cultura de Pernambuco e é pesquisador aposentado da Fundação Joaquim Nabuco, hoje integrando o seu Conselho Diretor. Também integra o Conselho Diretor da Fundação Gilberto Freyre. Também é articulista do Jornal do Commércio de Recife/PE.
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