Antes do Plano Real a área de
Administração de Cargos e Salários, como era amplamente denominada até anos
atrás, diferentemente das áreas similares de outros países onde a inflação era
controlada, passava praticamente o ano inteiro, na interpretação de legislação
de correção salarial e em negociações sindicais.
Enquanto os colegas de outros
países se preocupavam no enriquecimento dos cargos e atividades, na modelagem
de novos conceitos de remuneração e outras nobrezas, nós nos víamos atualizando
tabelas salariais, realizando pesquisas instantâneas, calculando deflação e
criando indicadores de descompressão salarial.
Para se ter uma idéia dessa
“corrida maluca”, entre 1967 e 1993, tivemos seis moedas diferentes: Cruzeiro
Novo (1967), Cruzeiro (1970), Cruzado (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro
(1990) e Cruzeiro Real (1993). O total de inflação acumulado nesse período foi
de aproximadamente 1.142.332.741.811.850% (IGP-DI).
Este era o cenário da economia
brasileira antes do Plano Real e o principal motivo que levou a equipe
econômica do presidente Itamar Franco a apresentar mais uma tentativa de
reorganizar a política fiscal e monetária do País. Assim, em 1º de julho de 1994
nascia o Plano Real. Nestes últimos 22 anos, a inflação acumulada no Brasil foi
de aproximadamente 465% - IPCA/IBGE.
Oficialmente, o Plano Real foi iniciado
em fevereiro de 1994 com a publicação de uma Medida Provisória que instituiu a
Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetários,
iniciou a desindexação da economia e determinou o lançamento de uma nova moeda,
o Real.
O Plano Real mostrou-se nos anos
seguintes o plano de estabilização econômica mais eficaz da nossa história ao
reduzir a inflação, ampliar o poder de compra da população e remodelar os setores econômicos. A inflação
que antes consumia o poder aquisitivo da população brasileira, impedindo que as
pessoas permanecessem com o dinheiro por muito tempo, principalmente entre o
banco e o supermercado, estava controlada. O consumidor de baixa renda foi o
principal beneficiário à época.
Em 1º de julho de 1994, com o lançamento da
nova moeda, estabeleceu-se a paridade CR$2.750,00 (Cruzeiro Real) para cada
R$1,00 (Real).
Voltando às políticas salariais
brasileiras, em outubro de 1979, o então Ministro do Trabalho, Murillo Macedo, criou
a Lei 6.708/79, tida como milagrosa! Entre outros itens, a Lei 6.708/79
implantou a correção semestral de salários e a aplicação do índice de inflação
referencial (INPC) sob a forma de “cascata”. Quem ganhava até três salários
mínimos seria aplicado 100% da inflação acrescido de mais 10% e quem ganhava
acima de vinte salários mínimos, a aplicação era em forma de resíduos das
aplicações nas faixas anteriores. À época, a inflação anual girava em torno de 20 a 25% e era prática corrente
as empresas anteciparem, passados seis meses da data base, um percentual fundamentado
nas projeções inflacionárias. Na cabeça do Ministro ocorreu que, como as
empresas já antecipavam espontaneamente, não iria impactar tornar obrigatório.
Esqueceu que só as grandes antecipavam! Logo nos primeiros seis meses da
vigência da nova Lei a inflação foi de 22%. No começo do sétimo mês tudo ou
quase tudo que foi repassado aos trabalhadores transpôs-se aos custos de produção.
É bom lembrar que em épocas inflacionárias a equação era custo mais lucro
desejado é igual ao preço de venda. Essa Lei sofreu um sem número de correções
até ser substituída. O único item que acabou sobrando foi o pagamento de um
salário em caso de demissão no mês que antecede a data base das categorias
profissionais. Lembro-me de uma projeção que dizia que se a Lei fosse aplicada
na forma como foi concebida, em alguns anos todos no país iriam ganhar onze
salários mínimos devido à “cascata e à aplicação de resíduos”.
Uma das medidas do plano real
estabeleceu a dexindexação da economia, ou seja, nada pode ser corrigido de
forma automática em função da simples aplicação do reajuste do salário mínimo.
Ocorre que algumas categorias profissionais que têm o salário mínimo como
referência (engenheiros, por exemplo) ganharam na justiça essa continuidade.
O sonho do poder aquisitivo não
perdurou por muito tempo. Em julho de 1994, na conversão para a moeda Real, um
Assistente Administrativo passou a ganhar, em média, R$500,00. Com a aplicação
dos 465% acumulados até junho deste ano (22 anos depois) o valor seria algo em
torno de R$2.700,00. Pergunte-se: quantos Assistentes Administrativos bateriam
à porta de sua empresa por R$1.000,00, por exemplo? Um Gerente de 2º/3º escalão
nessa época passou a ganhar R$5.000,00, que hoje seriam quase R$27.000,00. Quantos
efetivamente ganham isso e quantos bateriam à porta de sua empresa por R$ 6.000,00/R$
7.000,00?
Analise o cargo de Gerente de
Recursos Humanos. Com a terceirização predatória da área, inúmeras empresas
dispensaram seus gerentes, homens ou mulheres, e contrataram psicólogos ou psicólogas
recém formados ou com poucos anos de formado. Nesse momento o salário gerencial
despencou. Entende-se que as atividades mais complexas seriam feitas por
consultores, homens ou mulheres, contratados para esse fim.
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Aposentado e Sempre Independente
São Paulo / SP