segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Masterchef e o Diabo também vestem Prada. Não aprendeu ainda?

O filme “O diabo veste Prada” retrata bem as relações do mundo corporativo quando você se depara com um estilo de liderança visivelmente arrogante e sempre em busca da perfeição. Para os “pobres mortais”, deixa uma sensação de muita prepotência e arrogância nas relações com os subordinados que giram ao redor da personagem central. Como deve ser difícil lidar com um chefe desses dirão alguns. Eu jamais me submeteria a esse tipo de pressão dirão outros. Ambos estão errados quando se percebe em todas as entrelinhas que o resultado final é o crescimento profissional e pessoal, mesmo com todas as “crueldades” que alguns destacarão.

Certa vez li uma entrevista de um alto executivo de uma multinacional – “Aqui, quando uma pessoa apresenta baixa performance, temos que procurar ajudá-la a cobrir aquela deficiência, dar uma segunda chance. Se a pessoa não está mesmo dando certo aqui, achamos que é nossa obrigação, porque a vida é muito curta, dizer “Você pode ser bem sucedida em muitas companhias, mas aqui não tem jeito”. Prefiro dizer isso logo, quando o profissional é jovem, a ficar dez anos enrolando."

Em nossas relações diárias, quantas e quantas vezes os Gestores com medo de demitir um funcionário conclamam o RH para fazê-lo? Quantas e quantas vezes alguém convida um conhecido para uma visita social à sua empresa e na hora marcada manda dizer que está em reunião? Quantas e quantas vezes marcamos com amigos uma balada, todos confirmam para não ficar chato, e ninguém aparece ou telefona?

Tanto na vida social como no mundo corporativo, nossa cultura não aprendeu que quando não está afim ou quando não pode fazer alguma coisa ou até mesmo quando não quer receber alguém, é só dizer – "Olha, hoje eu não tô afim de sair, não posso recebê-lo em minha empresa, não tenho nenhuma oportunidade de trabalho, ..." 

Se você quer apresentar uma proposta de trabalho para uma empresa, que não precisa de você naquele momento, é comum você ouvir "estamos analisando, aguarde mais uma semana, vou marcar uma reunião com a Diretoria, me envia uma proposta com orçamento,...". Isso é cruel, vira ansiedade e cria uma falsa expectativa que aquele empregador ou aquela empresa vai lhe chamar!

Nas empresas multinacionais, europeias principalmente, é muito comum um gestor ou um colega de trabalho vindo da matriz, dizer para você coisas que você certamente não ouviria em uma empresa brasileira – “não gostei do seu trabalho sobre tal assunto, você tem que se esforçar mais!". Aí, parece que o mundo acabou. Foi sincero, nunca mal educado. Esse é o choque mais comum da nossa cultura, principalmente a corporativa. Preferimos ouvir ou dizer que todo mundo é excepcional e que todos gostam de mim! Passados alguns anos, “todos gostam de você” e você ainda não saiu do lugar que estava e que vai ficar por muitos anos, até sua empresa ser comprada por outra e você ter que enfrentar o mercado de trabalho sem muita competitividade.

O programa de TV que é um sucesso em vários países, “MasterChef”, agora também no Brasil, retrata bem o tema. O comportamento dos avaliadores, “MasterChefs de verdade”, é igual em todos os programas exibidos mundo afora. Ou você é bom ou você não é! Pude ver o programa na nossa TV desde o começo e quando um “MasterChef” dá uma avaliação mais rigorosa ou mais sincera e de uma forma “curta e grossa”, boa parte da plateia costuma tomar as dores do “ofendido” e criticar a forma de atuação do “MasterChef”.

O que torna as pessoas confortáveis são comportamentos e situações confortáveis. Queremos sempre ouvir que nossa comida está boa, que nosso trabalho está bom e que somos bons naquilo que fazemos quando, muitas vezes, não somos.

Todos os profissionais que tiveram o privilégio, mesmo que por um tempo, de conviver com um estilo de chefia rigoroso em resultados, semelhante ao “Diabo veste Prada” ou ao “MasterChef”, saíram do lugar comum, buscaram sua diferença e fizeram acontecer. É isso que importa. Sem “mimimi nem chororo”. Chorar e rezar não ganha jogo. Ter atitude, conhecer os limites e saber lidar com as competências disponíveis sim!


Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Independente
Remuneração, Desempenho e Competências
(11) 99323 - 7923
carh.consultoria@gmail.com



Um comentário:

  1. Carlos, concordo com boa parte de seu artigo. As pessoas gostam de ouvir que são "amadas" e uma semana depois que você é dispensado da empresa ninguém mais lembra de você. Essa é a dura realidade...

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