O Consultor *Mário Henrique Trentim, neste artigo, questiona
a banalização da função do líder nas organizações.
Bem, a liderança está em todo lugar. E, exatamente por
isso, não está em lugar algum. Pelo menos essa é a conclusão que estou chegando
nesse momento. Pode parecer paradoxal, mas não pare de ler esse artigo, vou
explicar melhor.
Curiosamente, a despeito de todas as teorias, ainda existe
um grande misticismo em torno dos líderes. Ainda hoje vemos artigos
questionando: liderança se aprende?. Muita gente fica se perguntando o que os
líderes fazem, como pensam e como agem; e criando uma série de mitos.
O mais interessante é que as sugestões de muitos livros e
artigos sobre liderança são simples e muitas vezes fazem até parte do senso
comum. Alguns exemplos:
1) o líder deve inspirar, ter paixão;
2) deve ter boa comunicação, clareza, escuta ativa;
3) deve ser honesto, franco, inspirar confiança… e por aí
vai.
Então, a pergunta que não quer calar: por que estamos
enfrentando um apagão de líderes? A resposta eu não tenho, mas creio que resida
no excesso de liderança. Meu caro leitor deve estar confuso novamente, mas é
isso mesmo: excesso de liderança.
Hoje se exige liderança para tudo, aparece na descrição
mesmo dos cargos mais baixos na hierarquia funcional/operacional. Para mim,
isso causa uma banalização da liderança, o que faz com que deixemos de refletir
seriamente sobre o seu papel estratégico.
Em outras palavras, se tivermos apenas caciques, não
teremos uma tribo. Se todos forem líderes, ninguém será líder. Afinal, existe
líder sem seguidores? Não.
Ao assistir Fomos Heróis, encontramos muitas lições de
liderança. E quantos líderes temos no filme? Centenas, milhares? Poucos. Temos
poucos líderes verdadeiros e que pensam em sua liderança, moldam suas atitudes
e pensamentos de modo estratégico para conduzir os seus seguidores com
responsabilidade para um objetivo definido e importante.
É isso que os líderes fazem: eles raciocinam a liderança,
embora pareça que estão apenas agindo “naturalmente”. Podemos até nascer com
características de liderança, mas ela precisa ser desenvolvida.
E a boa notícia: qualquer um pode aprender sobre liderança.
E, com persistência e empenho, qualquer um pode ser líder. Mas a liderança
precisa estar em posições-chave das organizações, senão ela não será efetiva.
Para os céticos, que acreditam que liderança é algo nato e que não pode ser
aprendida e dominada: Demóstenes.
Eu gostaria de concluir esse artigo enfatizando que a
liderança não pode ser banalizada como uma habilidade qualquer. É algo que
precisa ser pensado de forma estratégica, pois a liderança é uma faca de dois
gumes: para o bem e para o mal.
Porém, eu não posso terminar sem deixar alguns caminhos
para solucionar a questão que propus inicialmente: onde está a liderança? A
liderança está em ambientes nos quais ela pode se desenvolver. Essa é uma
mudança de paradigma. Não penso nos líderes como seres iluminados que vêm para
virar a mesa e quebrar as regras, inspirando e conduzindo liderados por mares
nunca antes navegados, rumo à conquistas antes tidas como impossíveis. Esses
são pontos fora da curva.
A liderança que precisamos nas organizações é do dia-a-dia
da vida corporativa. Sobreviver como empresa, como organização. E para isso
precisamos de um ambiente de liderança saudável. O mundo já possui muitos
chefiotas (Chega de babaquice! Robert Sutton), precisamos de ambientes
colaborativos, sinceros e honestos. Ambientes nos quais exista confrontação
positiva, como na Pixar (Como a Pixar promove a criatividade coletiva?). Aliás,
confrontação é a melhor solução para conflitos.
Para finalizar, os resultados nem sempre refletem as
competências e habilidades das pessoas. São pessoas, não recursos humanos. E o
fator “aleatoriedade” está presente, principalmente nas empresas devido ao seu
ambiente competitivo e concorrencial interno e externo.
Ou seja, nas palavras do renomado professor Leonard
Mlodinow, não adianta demitir o técnico quando a equipe vai mal. Também não
adianta demitir o CEO nem os líderes... é preciso investigar melhor os fatores
de sucesso / fracasso e as competências das pessoas.
Talvez esse seja um bom início de história para começarmos
a pensar melhor sobre os ambientes organizacionais e ter a liderança como um
ativo estratégico que precisa ser pensado, planejado e implementado. E isto não
somente por uma pessoa, mas disseminado nos pontos corretos e da forma correta
dentro das empresas, mais ou menos como agulhas de acupuntura que aliviem a
pressão de um mundo/mercado complexos e que direcionem as empresas de modo
sinérgico em busca de um objetivo maior: transformar a empresa no porco-espinho
de Jim Collins (Feitas para Durar).
Mário Henrique Trentim, Diretor da iPM Consult – Consultoria Inteligente.
Professor e coordenador dos cursos de MBA da CEDEPE Business School em
gerenciamento de projetos.
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