O pessoal de seleção tem o hábito de trabalhar na triagem de candidatos a
uma vaga de emprego seguindo criteriosamente o que foi determinado pelas
“instâncias superiores”. Ou seja, nada “fora da caixinha”.
Todos sabem que a primeira triagem cai sempre em cima da idade do
candidato. Sabemos da existência de cargos que a idade é fundamental para um
bom desempenho, em se tratando de atividades exercidas na área de produção por
exemplo. Ou algum candidato com idade avançada candidatando-se a uma vaga de
Auxiliar de Escritório, cargo este, colocado invariavelmente como início de
carreira.
Vamos analisar uma vaga de nível superior. Uma vaga carregada de
exigências classificatórias que, na prática são filtros de seleção para evitar
o envio de centenas de currículos. Além dos requisitos específicos para a vaga
acrescenta-se a expressão – MBA e Inglês fluente serão diferenciais. Ora, se
são diferenciais, não são fundamentais para o exercício do cargo. Voltamos à
idade do candidato a esta vaga. Com certeza será uma barreira. Isso antes de se avaliar todo o currículo. Não importa a estória de vida profissional,
conhecimentos adquiridos no “campo de batalha” e outras situações semelhantes.
O que importa é o carregamento de MBA´s, na maioria já desatualizados, o idioma
fluente e a grife da universidade frequentada.
As universidades fora desse padrão/grife possuem uma gama enorme de
alunos que batalham durante o dia e sentam em seus bancos à noite. Tem muita
gente boa e vestidinhos cor de rosa podem existir em qualquer lugar.
Henry Mintzberg, professor da Macgill University, do Canadá, em seu livro
“MBA? Não, Obrigado”, é um dos principais críticos dos modelos adotados por
esses cursos, principalmente nos EUA. Para ele, o grande equívoco desses
programas está em tentar ensinar técnicas gerenciais para profissionais que
nunca comandaram uma equipe na vida. Um movimento semelhante ao que ocorre nos
EUA, onde os cursos de MBA são oferecidos a jovens em início de carreira, que
têm entre 27 e 30 anos, recém-saídos da graduação. "É o mesmo que tentar
ensinar Psicologia para alguém que nunca viu um ser humano", diz Mintzberg
em seu livro.
"O ensino gerencial exige uma abordagem que estimule os
administradores a aprenderem com sua própria experiência. Em outras palavras,
precisamos incorporar a habilidade nascida da experiência e a arte de gerir à
educação gerencial. Daí levá-las de volta à prática administrativa", diz
um trecho do seu livro.
Quando eu me formei em Administração, anos atrás, logo na sequencia fiz
um curso de pós graduação em um universidade de grife. Chamava-se Educação
Continuada para Executivos. No meu caso, Recursos Humanos. Foram perto de 400
horas aula, o que hoje equivale a um MBA. Confesso que não mais que um ano
depois, se fosse depender só do conhecimento obtido na pós graduação, eu já
estaria desatualizado. Isso há uns 40 anos. Imagine hoje que as “coisas
mudam a cada vinte minutos”.
Várias idas a livrarias e contínuos cursos e congressos de curta duração
me mantiveram atualizado até os dias de hoje. Quando preencho um currículo ou
formação acadêmica obtida, sempre cito o meu tal curso de pós graduação como se
fosse fazer a diferença. Mas o que realmente vale é a estória “empresarial
vivida”.
Em matéria recente, li que mais da metade dos CEO´s americanos não
possuem MBA. Recente matéria da revista Exame cita que os melhores professores
de negócios do mundo não estão alojados nos programas de MBA de universidades de
grife como Harvard, Stanford e MIT.
Pelo menos é o que mostra ranking divulgado pela Bloomberg/Businessweek. Feito
com base na avaliação de alunos dos programas de MBA, o ranking levou em conta
itens como conhecimento dos professores, disponibilidade após as aulas e,
claro, aulas capazes de arrematar o mais entediado dos alunos. Entre as cinco
escolas com os professores que receberam as melhores notas, nenhuma é figura
comum nas 10 primeiras posições dos principais rankings de MBAs.
Já entre as instituições cujos docentes receberam as piores notas, pelo
menos duas aparecem entre as melhores do ranking de MBAs da Businessweek. As chamadas
universidades de grife.
Com certeza, as Consultorias de Executivos, além da formação e cursos
frequentados, dão uma importância equivalente ou até maior às realizações do candidato como profissional. Você que vai fazer
um MBA, como eu fiz o “meu” anos atrás acredite, logo estará desatualizado. Ou
você faz mais um ou frequente livrarias, cursos rápidos, congressos e muita,
muita pesquisa. Hoje temos a Internet!
Do ponto de vista do mercado de trabalho, um dos consultores
entrevistados enxerga um aumento da exigência por esses programas nos processos
de seleção de gerentes e executivos. “De fato, ter um título desses pode abrir
algumas portas nas etapas iniciais dos processo. Mas, no final, o que vai pesar
são as realizações. Dificilmente o MBA vai se sobressair à experiência”, afirma.
Ele mesmo, quando tem de selecionar um executivo, procura levar em conta o que
o candidato já colocou em prática. “Já tive decepções ao me guiar e me
influenciar pelo histórico acadêmico”.
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Independente
carh.consultoria@gmail.com
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