As
situações citadas na coluna do Walcyr Carrasco, na “Veja São Paulo”, nos leva à
reflexão que um dia a festa termina. Acabam-se os brigadeiros e os cajuzinhos.
Os
personagens citados não conseguiram elaborar um projeto legal para a sequência
de suas vidas. Sabemos que uma Bióloga com trinta anos de pesquisa não se acha
na esquina. Será que ela ficou os 30 anos com o mesmo nível de conhecimento em
pesquisa, dos primeiros dois, três anos? Lembram-se da teoria da Curva de
Maturidade?
A "vice-presidente" com vários idiomas e elevados
conhecimentos comerciais na área de importação/exportação não encontraria seu
caminho em consultoria ou no ensino de línguas? A área de Comércio Exterior é
cada vez mais crescente e, sabidamente, carente de profissionais.
O caso do
personagem executivo é o mais grave, e ao mesmo tempo, mais saudável. Com o
conhecimento obtido tentou criar um negócio próprio no segmento que atuava. Não
deu certo. Será que, como executivo, tinha conhecimento absoluto de todas as
variáveis de seu mercado de atuação? Procurou orientação do Sebrae ao
estruturar o novo negócio?
Sabemos
que a idade pode parar um profissional a qualquer momento. Por mais saudável,
fisicamente e profissionalmente, que o "cara" seja. São as regras de
mercado. Convivi com colegas "madurões", cuja única obsessão na vida era continuar trabalhando. Na mesma área. De preferência no mesmo ramo de negócios,
afinal o “cara” é especialista no segmento da siderurgia, da metalurgia, da
construção naval ou do varejo. Insistem em enviar currículos e mais currículos
em sites de recolocação. O tempo passa, o telefone não toca e a angustia
aumenta. "Pô, sou bom naquilo que faço, tenho energia, não sou doente, tô
preparado, continuo atualizado e ninguém me chama?"
Chega
uma hora que você tem que buscar alternativas para sua vida. Não tem jeito. É assim que a coisa funciona. Faça um mestrado, dê
aulas em universidades, dê aulas em cursos de formação profissional de curta
duração, escreva artigos técnicos, pratique consultoria, escreva um livro e
faça seu plano de marketing pessoal. Você não voltará à sua empresa. Voltar ao
mercado de trabalho não é impossível, porém pode ser mais difícil do que você
imagina. O artigo abaixo foi postado em novembro de 2009.
Agora
vamos à coluna do Walcyr
“Tenho
uma amiga bem preparada, inteligente e fluente em vários idiomas. Dirigiu uma
grande empresa, em um cargo logo abaixo do de presidente. Ia ao Oriente tratar
de importações. Lançou produtos lembrados e copiados até hoje. Há anos está
fora do mercado de trabalho. Quando a empresa foi vendida e ela saiu, parecia
fácil encontrar novo posto.
Passaram-se
os anos, o dinheiro acabou. Aceitou dirigir uma empresa na área de decoração, a
qual, por falta de grana, pagou o segundo mês com um sofá e duas poltronas.
Desde então faz pequenos trabalhos, terceirizada, sempre à espera de uma
oportunidade que não chega. Outra, doutora e responsável por pesquisas sérias
na área da biologia, perdeu a cadeira em uma universidade após quase trinta
anos de dedicação. Passou os últimos três com o dinheiro recebido. E mais nada!
Voltou para a casa da mãe, já idosa, para poder alugar a casa onde morava.
Recentemente, peguei um táxi especial. O motorista, um homem de maneiras
refinadas (aliás, muito mais do que as minhas), contou que fora
diretor-presidente de uma empresa na área de componentes elétricos. Após uma
fusão, montou a própria. Não deu certo e fechou.
-
Nunca mais achei emprego! O jeito foi comprar o táxi, pelo menos para comer -
contou.
Era
o tipo de executivo cuja casa eu poderia ter frequentado anteriormente, que
serviria vinho importado e cuja mulher usaria roupas de grife. Após certa
idade, com raras exceções, as pessoas são descartadas. Há situações tremendas:
nos meus anos de jornalismo conheci um diretor de arte talentoso, que não se
adaptou de imediato aos computadores. Perdeu o emprego. Da última vez que
tentei ajudá-lo, ele se candidatava a uma vaga de porteiro de prédio.
Às
vezes ouço falar de alguém: um ex-grande jornalista hoje escreve como
free-lancer, sem renda fixa; um alto executivo põe comida na mesa graças a
aluguéis baixíssimos, dos poucos imóveis que restaram; a família que a cada
três anos vende a casa onde mora para quitar dívidas e com a diferença compra
uma menor; sem falar dos que, aterrorizados pela situação, enfartaram.
Um
ritual hipócrita cerca as dispensas, como se houvesse vantagem para o
desempregado em explicações do tipo: ‘Estamos reestruturando. ..’. Isso quer
dizer que um bando vai para a rua. Ou: ‘Você vai ter a chance de buscar novas
oportunidades, se renovar’. Como se alguém ambicionasse chances não
remuneradas! E ainda tivesse de sorrir e agradecer a dispensa. Ah, como dói!
Meus
amigos têm mais de 50. Boa parte dessa geração ficou desempregada. Vejo outra
leva chegando, de quem passou dos 40 e também passou a ser considerado velho. É
óbvio que os jovens merecem oportunidades. Mas quem acumulou experiência,
conhecimento, não? Uma sociedade incapaz de aproveitar experiências profissionais
sólidas é no mínimo cruel. Pessoas não podem ser descartáveis. E não passa um
dia sem que um amigo me procure, pedindo ajuda. Mas são tantos, meu Deus! Em
que porta bater?
Tive
chefes maravilhosos - um deles manteve meu salário quando vim para a televisão,
até que eu me sentisse seguro no novo caminho. Seu Ivan, já falecido, era
generoso. Mas já fui demitido de surpresa, com a desculpa de que era preciso
renovar. E eu não tinha nem 40 anos! É desesperador vender o carro para comer,
buscar uma moradia mais barata e viver em agonia pelo mês que vem. Ninguém
merece. Principalmente quem sempre deu o melhor de si e tem como única nódoa
profissional o fato de já não ser tão jovem”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentem, da discussão nasce a sabedoria!