Nesta edição, O Piquete Bancário entrevista o psicólogo Vitor Barros Rego, que atua no Sindicato dos Bancários de Brasília. Ele está lançando o livro "Adoecimento psíquico no trabalho bancário: da prestação de serviços à (de)pressão por vendas":
Vitor Barros Rego: Trata-se de adoecimento por transtornos psíquicos, onde o bancário não consegue ver um edema, uma cicatriz ou algo do tipo, mas simplesmente vê que seu funcionamento mental e emocional já não é mais o mesmo.
PB: Quais as doenças de maior incidência entre a categoria? E as causas principais?
VBR: As principais são depressão, Síndrome de Burnout, síndrome do pânico, ansiedade generalizada e ansiedade social. Dentre as doenças que não são psíquicas, temos as sinovites e as tenossinovites, que levam à depressão. As principais causas estão em um ambiente de trabalho marcado por relações sócioprofissionais frágeis, ou com cinismo, por cobranças excessivas por metas, mas, principalmente, por um conflito ético individual e coletivo, onde a ordem é: os fins justificam os meios para bater metas e não ser humilhado.
PB: O trabalhador pode fazer algo para evitar esse adoecimento?
VBR: O que pretendo estimular no livro é que as mudanças não dependem de governo, banqueiros e sindicatos somente, mas principalmente do coletivo de bancários, para que eles possam se organizar, debater, discutir sobre o trabalho e suas contradições. Enquanto tivermos este individualismo, nada será mudado e as campanhas serão somente para galgar aumento salarial (cujo prejuízo será reposto com mais metas). Então, o adoecimento no trabalho é um adoecimento social, onde o coletivo está adoecido, e não só aquele que afastou.
PB: De que maneira os modelos de gestão das empresas e do poder público interferem nesse quadro?
VBR: Os modelos de gestão são os maiores responsáveis. São modos de gerir o afetivo do bancário e esquecem o trabalho propriamente dito. A maioria dos bancários que acompanho fala: "aqui no banco o único objetivo é a punição". Ou seja, é uma gestão pelo medo: medo de ser incompetente, medo de ser pouco, medo de ficar doente, medo de sentir sono, medo, medo, medo... Quanto ao poder público, há omissão por parte do INSS e do Ministério do Trabalho e do Emprego para olhar para estes aspectos invisíveis do trabalho bancário. O INSS joga contra, pois não reconhece o adoecimento por causa de peritos pouco preparados para um trabalho tão importante como este. E o MTE pouco se interessa em cobrar dos bancos ações efetivas para diminuir os adoecimentos no trabalho bancário. As medidas que já foram feitas, entretanto, buscavam somente punir os bancos. Assim, estes fazem o quê? Transferem a punição para o funcionário ou omite resultados.
PB: Sobre o livro, como ele está estruturado e para qual público ele é direcionado?
VBR: O livro tem 3 públicos: bancários, delegados sindicais e alunos de psicologia (minha formação). Como há relatos de bancários, para o aluno de psicologia será bem rico para que ele se situe sobre o tema e venha dar assistência correta para este tipo de atendimento. Infelizmente, há maus psicólogos que não conseguem tratar o adoecimento no trabalho de uma maneira que venha a dar resultados efetivos, pois tendem a tratar somente as questões parentais. Para os demais públicos, é uma forma de transformar aquele cotidiano, aquilo que é rotina, que é normal em algo que pode tomar proporções drásticas para a saúde mental do bancário. A primeira parte do livro, faço um levantamento das questões socioeconômicas que impactam nos modelos de gestão. Na segunda, questões legais sobre o afastamento, estatísticas e os relatos de pacientes bancários. A última parte, trago algumas reflexões sobre como podemos pensar de maneira diferente o trabalho bancário para, assim, propormos idéias e soluções mais cabíveis na realidade, mas, principalmente, ações mais coletivas.
PB: Como os interessados podem ter acesso ao livro?
VBR: O livro estará à venda no dia do lançamento (11/07) no Sindicato dos Bancários de Brasília) e também pelo site da editora: www.editoraexlibris.com.br.
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