Assisti um filme, Whyplash. Um belo filme. Especialistas em
comportamento e planejamento de carreira devem ou deveriam ter gostado. Não é
minha intenção rabiscar mais um artigo sobre as “querelas da vida corporativa”
e nem do desgastado clichê “lições que você pode extrair do filme...” pois
essas abordagens “mais do mesmo” já encheram o saco.
Quero rabiscar apenas sobre um jovem comum, com seus sonhos
e limitações.
Um jovem que não pode ser rotulado como sendo da geração Y,
apesar de ter apenas 19 anos. Jovens da geração Y costumam (ou costumavam) mudar
de emprego quando ouvem o primeiro não ou quando o superior não lhe dá a
atenção que julgam merecer. A geração Y vive com a “faca e o smartphone na
mão”. Andrew vive com a "faca e o sonho na mão".
Os caras da rotulada Geração Y são muito cobrados pelo alto
custo de sua preparação e formação. Por obrigação tem quer vencedores pois
foram torneados para o alto desempenho. Isso é sufocante.
Hoje percebemos que os trabalhadores mais jovens, de uma
maneira geral, mostram-se mais interessados em fazer com que seu trabalho
permita acomodar sua vida pessoal, incluindo-se aí, sua família. Querem
trabalhar, mas não querem que o trabalho dite sua vida.
Voltando ao tema dos rabiscos, o comportamento do professor
da Escola de Música lembra muito o comportamento do Sargento do filme de
Stanley Kubrick, Nascido para Matar. No filme de Kubrick, um sargento treina de forma fanática e sádica os
recrutas em uma base de treinamentos, na intenção de transformá-los em máquinas
de guerra para combater na Guerra do Vietnã. Tal qual o professor.
Comparado aos dois comportamentos, O Diabo
veste Prada é uma versão mais branda da relação de poder. Porém, todos querem
ter os melhores integrantes em suas equipes. Por isso buscam a extrema
perfeição. No reality show MasterChef, acontece algo semelhante quando os
julgadores vão a campo e nem sempre os participantes ouvem o que gostariam de
ouvir e nem da forma como ouvem. O jovem do filme Andrew, ao buscar seu sonho,
ser um dos melhores bateristas de sua geração e ter seu nome celebrado pela
crítica, fica abatido quando declarado medíocre pelo professor.
No mundo corporativo temos dificuldades em
lidar com aquilo que se chama assédio moral. Grande parte dos trabalhadores,
por conta do desemprego, prefere submeter-se ao assédio moral a reclamar seus
direitos nas instâncias legais. Em proporções mínimas ou elevadas, todos nós,
em algum momento, já sofremos assédio moral e relevamos. Ou nem percebemos que
se tratava de assedio moral ou não queríamos perceber.
Não vou mais falar do filme, pois é um filme que deve ser assistido. Só comento que o momento propiciou ao Andrew virar e revirar tudo que lhe aconteceu e aprender a lidar com o inesperado.
Chorar e rezar não ganha jogo. Chega de mimimi. Ter
atitude, conhecer os limites e saber lidar com as competências nata ou
adquiridas disponíveis podem fazer ou amenizar a diferença.
Não se abata quando lhe julgarem pequeno, sem qualificação
ou o tradicional "seu perfil não é adequado". Vá à luta e supere as
expectativas. Vire a mesa. Vire o jogo. Chute o balde. Surpreenda a você
mesmo.
Diante das adversidades corporativas ou quando seu superior fala mais alto do que devia, tenha a capacidade de permanecer funcionalmente ativo em uma sociedade que exige um ser humano lúcido e emocionalmente estruturado!
Mais sonhos e menos smartphones!
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Independente
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