A
partir do ponto de vista do subordinado, chefe bom não existe. Pelo menos de
acordo com Beto Ribeiro, autor do livro “Eu odeio meu chefe!”, da editora
Universo dos Livros.
“No
Brasil, onde todo mundo é emotivo, a gente tende a achar que o chefe é amigão,
parceiro”, afirma. “Mas chefe bom é o que consegue realizar as metas da
empresa. E se precisar fazer cortes e dar promoção a outro, ele vai fazer”,
acredita o escritor. Ribeiro também é autor de “Poder S.A. – Histórias
Possíveis do Mundo Corporativo”, obra que inspirou boa parte dos 23 chefes
perfilados em seu novo livro. “Muitas histórias vêm de leitores e relatos de
amigos e pessoas próximas”, diz. Ribeiro acredita que, se esses chefes são tão
comuns, é porque, no fundo, eles têm lugar no mercado de trabalho.
Para
encarar chefes terríveis de maneira leve e bem-humorada, o autor sugere como
lidar com cada um dos tipos e ainda ensina pequenas vinganças, como deixar
todos os dias de manhã um copo usado de café sobre a mesa dele. “Já fizeram
isso comigo. A do copinho de plástico eu não suporto”, diverte-se Ribeiro.
“Todos os exemplos são tirados da vida real.” E a principal dica: manter a
rotina com bom humor. “Fica mais fácil de levar as coisas”, acredita o autor,
que comenta dez perfis:
1.
Chefe Indicação
Imagine
uma tartaruga em cima do poste. Se ela chegou lá, alguém a colocou. Logo, só
vai sair se alguém tirá-la do topo. É como funciona o Chefe Indicação. “Está na
mesa de chefe porque tem boas conexões”, diz Ribeiro. Geralmente, é parente ou
amigo do dono, costuma não entender nada do trabalho do qual é responsável e
chega a atrapalhar a equipe.
Às
vezes, é até melhor quando esse tipo de chefe não interfere muito, porque atrapalha
menos. Para sobreviver e crescer numa empresa com um Chefe Indicação, o melhor
a fazer é ajudá-lo no que puder e se tornar o seu braço direito. Se ele
confiar, você pode ganhar proteção. De repente, até consegue até migrar para
uma área melhor...
2.
Chefe Não!
Diz
"não" para tudo, independentemente do pedido ou projeto. Parte disso
é só pose, o objetivo é manter os subordinados quietinhos e trabalhando sem
questionamentos. O "não" é usado como forma de intimidar e barrar os
funcionários “chatos” que têm mania de inovar. São comuns em empresas S/A, com
marcas importantes e reconhecidas no mercado, mas com pouca inovação. Para
lidar com esse chefe, ganhe pelo cansaço. “Tente perguntar ‘por que não?’ e
veja-o escorregar na própria armadilha”, sugere Ribeiro. A tendência é ele
dizer "sim" só para se ver livre de você.
3.
Chefe Novela Mexicana
Como
todo mundo, tem problemas no casamento, com os filhos, o carro que precisa ser
levado na oficina, exames médicos... Mas faz questão de resolvê-los em alto
volume no telefone da empresa. “Tudo é um drama na vida dessa pessoa”, resume
Ribeiro. O funcionário que for esperto vai se oferecer para cuidar de algumas
tarefinhas do chefe Novela Mexicana para que ele possa resolver sua complicada
e turbulenta vida pessoal. “Sempre que perguntarem onde seu chefe está, diga
apenas “Não sei...” e mostre desconforto no olhar”, recomenda Ribeiro. Para
ele, chefe que deixa a equipe se estrepando sozinha não merece lealdade.
4.
Chefe Tropa de Elite
Ele
vai tentar de todas as maneiras fazer seus funcionários “pedirem para sair”.
Pressão máxima é com ele mesmo. Se você trabalha com um Capitão Nascimento de
gravatas, essa pode ser uma excelente oportunidade para exercitar a humildade:
as ideias dele sempre serão melhores e você terá o desempenho avaliado abaixo
do esperado, invariavelmente. Esses chefes costumam ser encontrados em
indústrias que cobram altos resultados, como bebidas, varejo e as pontocom. Se
você se sente muito incomodado e isso afeta sua saúde mental ou física, então
não tem jeito: “Peça demissão. Esse tipo de chefe não vai mudar e ainda tem
todo o apoio da diretoria”, afirma Ribeiro.
5.
Chefe 171
Difícil
de identificar. Geralmente, os chefes 171 são talentosos nos golpes e na arte
da enrolação. “Dá espaço” para a equipe resolver os problemas e aparecem para
colher os louros. Como têm bom trato social, acabam queridos por todos, mesmo
não primando pela ética, caráter e comprometimento. “É o tipo canastrão que
leva seu ‘time’ para a churrascaria no fim do ano e comemora os resultados.
Para a conta, pede nota mais alta e solicita reembolso da empresa”, diz. Muito
cuidado ao tentar desmascarar esse chefe: ele é capaz de contornar a situação e
fazer a equipe se dar mal.
6.
Chefe Vergonha Alheia
Lembra
muito o Michael Scott, gerente da Dunder Mifflin, a fábrica de papel onde
ocorrem os episódios da série americana The Office. Piadas inconvenientes,
intimidade forçada, exagero na bebida do happy hour da equipe e todo tipo de
situação vergonhosa pode acontecer sob a tutela dele.
Não
é uma má pessoa, mas é inconveniente. “Um constrangimento só”, de acordo com
Ribeiro. Florescem em empresas que começaram pequenas e depois crescem muito. A
melhor forma de lidar com o Vergonha Alheia é frear maiores envolvimentos.
7.
Chefe Ao Mestre com Carinho
Nada
mais edificante do que um superior que compartilha conhecimento e experiência
de vida, mas o Ao Mestre com Carinho vai além. O problema desse tipo de chefe é
que ele divide tudo, inclusive com quem não quer ouvir. “É um paizão, adora
ensinar os outros”, diz o autor de “Odeio meu chefe”. “Até porque só ele sabe
fazer as coisas”, diz Ribeiro. Abunda em departamentos burocráticos, como
jurídico, financeiro e administrativo. O melhor a fazer é aprender o que puder
absorver e deixar que ele brilhe da forma que tanto almeja.
8.
Chefe Dono
É
fácil encontrá-los nas empresas de família, as que têm o sobrenome dos donos ou
que abriram várias filiais pelo país, em ramos como comida rápida, roupa ou
pequenas redes de supermercado. “Ele adora ser ‘o dono da empresa’, do seu
trabalho e, se você deixar, da sua vida também”, descreve Ribeiro. Ou você
entra no jogo ou pula fora do barco, porque nessa gestão centralizada, quem dá
as regras é ele.
9.
Chefe Sonhar não custa nada
Projetos
revolucionários, ideias inovadoras, contratações para montar o dream team. Na
cabeça dele, a diretoria vai aprovar o orçamento pedido e todos os seus sonhos
se tornarão realidade – até que a dura realidade vai obrigá-lo a acordar: nada
disso vai acontecer.
“Não
embarque na onda do chefe Sonhar Não Custa Nada”, diz Ribeiro. Para o autor, o
melhor a fazer é se fingir de morto até esse chefe ser substituído, porque em
geral, a duração desse tipo numa empresa é curta, já que os resultados costumam
não aparecer.
10.
Chefe Grito
Ele
já chega gritando, e nas melhores manhãs, até o “bom-dia” tende a ser áspero. A
gritaria começa com a recepcionista, passa pelo estagiário, gerentes e segue
empresa afora – claro que ele vai gritar com você também, tendo motivo ou não.
Se receber uma chamada de telemarketing, ele vai atender aos berros, e pode
contar que você vai saber de todos os problemas pessoais da vida do sujeito – a
conta da tevê a cabo que veio errada, a empregada que faltou, o filho que ficou
de recuperação. Beto aconselha gritar mais alto. “Geralmente esses bobos têm a
autoestima muito baixa”, ressalta. Se não funcionar, você perde o emprego, mas
pelo menos gritou de volta.