quarta-feira, 22 de junho de 2016

Aprendizado pelo Erro - Ricardo Darín

Tudo está muito condicionado ao resultado. Tudo está muito condicionado à efetividade, ao acerto. Por exemplo, nossas gerações jovens atuais estão condicionadas a uma pressão permanente, que tem sido exercida, voluntária ou involuntariamente, sobre a juventude, no sentido de que devem acertar, devem ser bem-sucedidos em tudo o que fizerem. Eu detesto essa visão.

Detesto a ideia de não poder errar, de não poder aprender com os erros, de não poder falhar, e nos levantarmos, nos recuperarmos e seguir em frente, porque esse é um dos motores do templo humano. Errar. Eu cometo muitos erros, muitos erros.

Sou filho de um casamento entre dois atores, dois bons atores, mas que nunca tiveram sorte. Nunca conseguiram ter estabilidade, sempre com problemas econômicos, o dinheiro nunca chegava ao fim do mês. Para mim, o máximo que eu esperava ter era um trabalho. O resto era absolutamente secundário. E, nesse sentido, eu tive toda a sorte que eles não tiveram. Nunca precisei pedir trabalho. Até porque sou um dos que acreditam que essa é uma profissão em que, lamentavelmente, se você precisa de trabalho, não pode pedir. Basta que se deem conta de que está procurando emprego para não te darem. Nunca tive planos de querer ser fulano ou beltrano. Isso passa às pessoas que veem as coisas de fora. Eu sempre vi a partir da cozinha. Ou seja, não me reconheço ambicioso nesses termos. O que não significa que eu não seja ambicioso. Algo devo ter, porque senão não iria para a frente, não evoluiria. Sempre ri demais desse ofício. Não me podem contar nada de como funciona, ou tentar me explicar o que é a essência de um ator, o que passa na cabeça dele, no corpo, na alma. Como uma família de atores, tivemos muitas oportunidades de viver e experimentar. Sempre fui, e não me canso de dizer, um cara de muita, muita sorte.

Ser ator é uma profissão em que o narcisismo e a egolatria estão em primeira ordem. Chega alguém e diz que você é um fenômeno e você gosta, afinal faz bem para o ego, e começa a acreditar que realmente é um fenômeno. Minha luta sempre foi contra isso. O inimigo número um do ator é o ego, o narciso que temos dentro da gente. Tem que manter esse sujeito com o pé no pescoço e imobilizado no chão, porque, quando ele se levanta, vira um monstro.

Trabalhar com gente de qualidade ajuda a elevar a tua própria qualidade. A responsabilidade pelo meu sucesso está no talento dos profissionais com quem trabalho. Ninguém pode ficar com o prêmio para si mesmo.

( Sites El Clarin, Folha de São Paulo)


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