Tudo
está muito condicionado ao resultado. Tudo está muito condicionado à
efetividade, ao acerto. Por exemplo, nossas gerações jovens atuais estão
condicionadas a uma pressão permanente, que tem sido exercida, voluntária ou
involuntariamente, sobre a juventude, no sentido de que devem acertar, devem
ser bem-sucedidos em tudo o que fizerem. Eu detesto essa visão.
Detesto
a ideia de não poder errar, de não poder aprender com os erros, de não poder
falhar, e nos levantarmos, nos recuperarmos e seguir em frente, porque esse é
um dos motores do templo humano. Errar. Eu cometo muitos erros, muitos erros.
Sou
filho de um casamento entre dois atores, dois bons atores, mas que nunca
tiveram sorte. Nunca conseguiram ter estabilidade, sempre com problemas
econômicos, o dinheiro nunca chegava ao fim do mês. Para mim, o máximo que eu
esperava ter era um trabalho. O resto era absolutamente secundário. E, nesse
sentido, eu tive toda a sorte que eles não tiveram. Nunca precisei pedir
trabalho. Até porque sou um dos que acreditam que essa é uma profissão em que,
lamentavelmente, se você precisa de trabalho, não pode pedir. Basta que se deem
conta de que está procurando emprego para não te darem. Nunca tive planos de
querer ser fulano ou beltrano. Isso passa às pessoas que veem as coisas de
fora. Eu sempre vi a partir da cozinha. Ou seja, não me reconheço ambicioso
nesses termos. O que não significa que eu não seja ambicioso. Algo devo ter, porque
senão não iria para a frente, não evoluiria. Sempre ri demais desse ofício. Não
me podem contar nada de como funciona, ou tentar me explicar o que é a essência
de um ator, o que passa na cabeça dele, no corpo, na alma. Como uma família de
atores, tivemos muitas oportunidades de viver e experimentar. Sempre fui, e não
me canso de dizer, um cara de muita, muita sorte.
Ser
ator é uma profissão em que o narcisismo e a egolatria estão em primeira ordem.
Chega alguém e diz que você é um fenômeno e você gosta, afinal faz bem para o
ego, e começa a acreditar que realmente é um fenômeno. Minha luta sempre foi
contra isso. O inimigo número um do ator é o ego, o narciso que temos dentro da
gente. Tem que manter esse sujeito com o pé no pescoço e imobilizado no chão,
porque, quando ele se levanta, vira um monstro.
Trabalhar
com gente de qualidade ajuda a elevar a tua própria qualidade. A
responsabilidade pelo meu sucesso está no talento dos profissionais com quem
trabalho. Ninguém pode ficar com o prêmio para si mesmo.
(
Sites El Clarin, Folha de São Paulo)
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