Os cenários empresariais evidenciam que o formato do emprego
atual, da carteira assinada, será cada vez mais escasso. A partir da última
crise da economia mundial, o que já era bastante claro ficou mais claro ainda:
é preciso fazer mais com menos!
A era de torneiras abertas acabou. Qualquer investimento
feito hoje será muito bem avaliado na relação custo/benefício/retorno. E é essa
relação que tem a chave do cofre de onde sairão os projetos.
Vamos analisar a evolução da Administração nas últimas décadas
e refletir sobre as mudanças provocadas e, principalmente, como nos saímos
desde então.
O texto a seguir foi construído em cima de uma matéria da
Revista Exame do ano de 2001.
A evolução dos conceitos da Administração nas últimas
décadas
Reengenharia, Downsizing, Benchmarking, Qualidade total,
Tecnologia da Informação, Gestão do Conhecimento. Eis alguns dos conceitos,
fatos e até enganos que marcaram a trajetória da administração e dos negócios
nas ultimas três décadas.
Nas ultimas décadas, homens (muitos) e mulheres (ainda
poucas) de todo o mundo vêm tentando o que muitos consideram impossível:
transformar a gestão dos negócios numa espécie de ciência. Nestes 30 anos, uma
infinidade de teorias e de teóricos surgiu. Algumas teorias marcaram época,
mudaram rumos, transformaram a vida das empresas e, sobretudo, das pessoas que
fazem o mundo dos negócios. Muitas provaram ser erradas e absurdas. Algumas
foram mal compreendidas. Todas, de alguma forma, fazem parte da historia
recente das corporações.
Nos anos 70 e 80, essas estórias retratam a busca pela
melhoria da produtividade. É uma era marcada pelo kanban, celebrizado no
sucesso da japonesa Toyota, e pelo surgimento de estruturas hoje banais, como
as centrais de distribuição. Peter Drucker, o pai da administração moderna, foi
o primeiro a vislumbrar o que viria depois, nos anos 90: as teorias se voltam
para bens intangíveis, como a gestão do conhecimento e o relacionamento com os
clientes. É também a decada dos gurus e do culto a grandes executivos, cuja
personificação máxima é Jack Welch, o homem que durante 20 anos comandou a GE,
e do domínio da tecnologia. Para onde olhar daqui para frente? Muito
provavelmente, para as pessoas. Os trabalhadores do conhecimento serão
avaliados e valorizados de acordo com sua habilidade de criar, imaginar, julgar
e construir relacionamentos.
1970
- O conceito da teoria das filas, técnica criada pela
indústria americana para calcular o aumento da capacidade de produção, quando a
ociosidade se aproxima de 10%, chega ao Brasil.
- Saldo de caixa negativo é a maior ameaça ao prestigio de
administradores financeiros. Para ajudá-los, os americanos criaram um método
simples, o cash flow. Surge o velho e bom fluxo de caixa.
1975
A primeira entrevista de Exame com Peter Drucker, o pai da
administração moderna, então um jovem de 65 anos, feita em sua casa, em
Claremont, na Califórnia. Durante a entrevista, vez por outra um despertador
tocava. Era hora de Drucker regar as roseiras de seu quintal. Um de seus
ensinamentos tornou-se uma espécie de mandamento permanente do capitalismo: “O
mercado é definido pela demanda, não pela oferta”. Em outra passagem, ele
alerta para o surgimento da globalização: “Todos os homens de negócios tem de
estar atentos ao fato de que existe uma economia mundial, por mais local e
restrito que seja o mercado de seus produtos”.
1977
A diversificação surge como alternativa para o crescimento.
Duas décadas depois, o termo estaria praticamente enterrado. A palavra de ordem
passaria a ser o foco.
1978
É o início da disseminação do conceito de planejamento
estratégico, divulgado pelo consultor americano Igor Ansoff.
1981
A análise de valor, um método para eliminar custos
supérfluos na elaboração de produtos, torna-se popular entre as empresas brasileiras.
1982
A ABB publica o segundo balanço social no país, numa época
marcada por greves e pela tensão nas relações entre sindicatos e empresas.
Plantava-se a semente do que viria a ser conhecido como responsabilidade social
corporativa.
O desempenho de empresas japonesas como Toyota e Sony ajudam
William Ouchi, professor de administração da Universidade da Califórnia, a
vender mais de 1 milhão de exemplares do livro Teoria Z, traduzido em 13
idiomas, e a ministrar palestras em todo o mundo, inclusive no Brasil. O
conceito prega a criação de empresas Z – nascidas no Ocidente, mas com
características da gestão japonesa, como emprego duradouro e responsabilidades
coletivas.
Dois obscuros funcionários da McKinsey, Tom Peters e Robert
Waterman, inauguram a era dos gurus da administração com o lançamento do livro
In Search of Excellence (traduzido no Brasil como Vencendo a Crise). Cinco
milhões de exemplares foram vendidos em tempo recorde. Os executivos estavam
ávidos por conhecer as razões do sucesso das companhias mais bem administradas
dos Estados Unidos. A IBM, que tempos depois quase iria à falência, era
onipresente em suas páginas. Quase 20 anos depois, Peters viria a público para
dizer que havia falseado alguns dados presentes no livro. O que o mais
espalhafatoso dos gurus não faz para continuar na berlinda. . .
1983
O artigo “O que muda (e o que se ganha) com o kanban”
apresenta a prática japonesa do just-in-time, que até hoje ajuda a reduzir
estoques nas fábricas. A busca por produtividade se transformaria em febre.
1984
Os pallets – esses banais recursos das linhas de produção –
são usados por apenas 30% das empresas brasileiras.
1988
A qualidade total surge como uma religião no meio
corporativo. O Japão, país que quase destruiu a indústria automobilística dos
Estados Unidos, é sua meca. E os americanos W. Edwards Deming e Joseph Juran,
seus grandes missionários. Seu mantra, nunca contestado desde então: “Fazer
certo desde a primeira vez”.
1990
A administração participativa é abordada numa reportagem de
capa da Revista Exame. Aparecem os primeiros sinais de que as fronteiras
internas cairiam e de que o poder nas empresas sairia das mãos de indivíduos
para as de grupos de trabalho
Leia a Parte II
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