Agora, você contrataria para sua empresa, um gerente de compras, logística ou de recursos humanos entre 50 e 60 anos? Provavelmente não! Pode me dizer por que?
Algumas profissões têm a idade de seu ocupante como inimiga, outras como aliada. Se você é médico, engenheiro civil, advogado, professor ou jornalista, quanto mais velho você fica mais é respeitado (não falo de exceções). É natural. É o efeito psicológico. Você compraria uma casa totalmente assistida por um engenheiro civil recém formado ou faria uma cirurgia do coração por um médico cirurgião recém formado? Provavelmente não!
A grande maioria dos presidentes dos países do nosso planeta
tem mais que 50 anos e ocupam o mais importante cargo de seu país. Você
votaria, para presidente de seu país, em um candidato com 30 anos? Agora, você
contrataria para sua empresa, um gerente de compras, de logística ou de
recursos humanos, entre 50 e 60 anos? Provavelmente não! Pode me dizer por quê?
Quem pensa assim é você ou sua empresa? Para presidente de seu país, em linhas gerais, tem que ter
experiência burocrática e política, vida pública de ilibada reputação e mais
que 50 anos ao passo que, um gerente de compras, de logística ou de recursos
humanos com 50 anos, uma experiência verdadeiramente qualificada e nada que
possa denegrir sua imagem ao longo de sua carreira, não serve para sua empresa.
Tem que ser um “cara” de 30 anos.
A grande preocupação do estagiário é formar-se e ser
trainee. A grande preocupação do trainee é logo virar um profissional junior.
Essas passagens são de curta duração. Uma vez pleno, a vida já começa a sorrir.
Já está na profissão e o tempo é só uma questão de tempo. Difícil é manter-se
junior por mais que dois, três anos! Lá pelos 30 anos tornar-se sênior, com 35
anos chefe e com 40 anos gerente. Calma, estou falando das décadas passadas.
Hoje, muitos profissionais do maior gabarito tornam-se gerentes e diretores na
faixa dos 30 anos. Tecnicamente perfeitos, porém, o lidar com a vida
corporativa e pessoal, por vezes deixa a desejar. Coach, MBA e cursos de
desenvolvimento e formação de gestores fazem parte do dia a dia. Tudo se resume à competência de cada um
em querer posicionar-se melhor.
O que era para ser um “experimento psicológico” tornou-se um
dilema corporativo. Como dispensar o “benchmark”?
A solução encontrada foi original, arriscada e aceita por
todos. Um dos três candidatos mais jovens acabou sendo escolhido e o “velho”
foi contratado por prazo determinado, por volta de seis meses (com direito a
renovação), para desenvolver projetos pontuais, transferir conhecimentos e
atuar como uma espécie de mentoring do novo Gerente de Recursos Humanos! Tudo
isso muito bem articulado, acompanhado e firmado em contrato.
Alguns anos depois encontrei minha amiga em um aeroporto e
no cafezinho me lembrei do caso e perguntei-lhe como havia sido a experiência.
Feliz, respondeu-me que na hora estava morrendo de medo que as “coisas” não
dessem certo por causa das individualidades colocadas em jogo. Porém , devido ao
acompanhamento interno, ambos descobriram que poderia ser um bom caminho. O
Luiz, um executivo que ao longo da sua vida adquiriu senioridade, liderança e
reconhecimento profissional, "adotou" um jovem gerente de recursos
humanos, servindo-lhe de orientador na sua carreira, de professor na sua
especialidade e de conselheiro em sua ascensão dentro da metalúrgica.
Além do que, formulou, validou e implantou novos projetos em
sistemas de remuneração, novos desenhos no tratamento de cargos e carreiras,
novas posturas e atitudes em processos de recrutamento e seleção e melhorou em
muito as relações com os empregados e com o sindicato. Passados os seis meses
iniciais, o Luiz gostou tanto da “brincadeira” que foi contratado por outra
empresa nas mesmas condições. Vez ou outra, o “empregador que foi laboratório”
o chama para um trabalho ou aconselhamento pontual.
Depois que embarcamos para nossos destinos fiquei pensando
como se desperdiçam os cérebros em nosso país tão carente de qualificação. É
lógico que existem centenas de jovens muito bons naquilo que fazem e, se são
gerentes ou diretores, na faixa dos 30 anos, o são por absoluto mérito e
competência própria. Também é lógico que existem centenas de “velhos” chatos,
pedantes, ultrapassados e verdadeiros “malas sem alças”.
Mas, um selecionador, ao receber o currículo de um
cinqüentão, na hora envia ao “arquivo morto”. Cheio de preconceitos. Incapaz de
simular variações em torno de um mesmo tema. Só o que está na partitura. Por
que não ousar uma experiência como fez minha amiga no passado? Após realizar
sua entrevista bem centrada naquilo que queria apurar, como só um psicólogo
sabe fazer, descobriu que o Luiz não era chato, pedante, ultrapassado e muito
menos um “mala sem alça”. E que sabia muito!
Ao invés de só enviar seus funcionários para um curso de
gestão de compras, logística ou recursos humanos, contrate um ex gerente dessas
áreas para desenvolver projetos e ministrar/transferir conhecimentos “in
company”. Tudo por prazo determinado.
Um profissional desses, bem selecionado, já adquiriu sua
estória empresarial vivida, participou de inúmeros cursos de informação,
formação e atualização, já “filtrou o joio do trigo” em todos eles, já errou e acertou
e está aí, ao seu lado, à sua disposição. Considero um enorme desperdício,
deixar esse “cara” sentado em uma poltrona, em uma quarta feira útil,
assistindo jogos da Champions League. Se bem que os jogos são muito bons (os da semana que vem são imperdíveis!).
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Remuneração, Desempenho e Competências
(11) 99323 - 7923
carh.consultoria@gmail.com
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