Você acabou de concluir o tão esperado curso de Cargos e
Salários que há tempos pleiteava em sua empresa. Convenceu a chefia e o cara
que diz “sim” e lá tá você no curso. Cheio de boas intenções e com muita
vontade de aprender.
Posso dizer que a grande maioria dos cursos de Cargos e
Salários que conheço e/ou que tomo conhecimento pela web, os instrutores são da
melhor qualidade. Talvez possamos ter um ou outro que conhecem muito mais do
ponto de vista acadêmico do que prático e nos empanturram teorias. Não interessa,
os caras são bons.
Você supõe que ao ter autorização para fazer o curso, no
primeiro dia de sua volta vai começar a implantar e/ou a rever suas estruturas
salariais todo cheio de marra. Uma coisa que você deve ter em mente é que tudo
que aprendeu e ouviu no curso tem fundamentos meramente didáticos, ou seja,
customizados para o evento. Desde os formulários de levantamento de atividades
para descrição de cargo até o manual de avaliação de cargos por pontos. Você
aprendeu os conceitos de “como fazer” e “o que é isso ou o que é aquilo”. Findo
o curso comece a preparar sua missão junto à empresa. Não seja apressado.
Pesquise bastante na web, compre bons livros para somar às
apostilas recebidas. Ao começar a criar seus formulários, pense primeiro no público alvo
e no que investigar. É importante lembrar que tudo que você investigar deve ser
alvo de avaliação futura. Portanto, investigue só “coisa útil”. Não invente
perguntinhas sem avaliação só para encher o formulário e fazer o respondente
perder tempo. Se optou por pontos, não copie o manual recebido no curso, crie
seu manual com base nas competências adequadas à sua empresa e ao público alvo.
Não faça como já vi, medir “Esforço Físico” em Advogado. Vamos com calma!
Em plena 2ª feira, logo após você ter tomado seu cafezinho e
discutido a rodada de futebol do domingo, seu chefe lhe chama e informa que na
sexta feira, bem no fim da tarde, a Diretoria resolveu implantar um projeto de
Cargos e Salários, começando pela área administrativa.
Depois do susto e do
primeiro impacto, você fica satisfeito com a possibilidade de colocar em ação o
aprendizado recente no curso de cargos e salários. Já em sua mesa você começa a folhear os livros
comprados. A primeira coisa que lhe vem à cabeça é definir o grupo ocupacional
administrativo.
Quais cargos comporão esse grupo? O projeto inicial prevê
cargos administrativos sem supervisão. Esse é o primeiro balão de ensaio. A relação dos cargos foi baseada
na nomenclatura e pode ser que um ou outro, pelo levantamento de atividades, não
pertença a esse grupo. Ao montar o questionário você tem que associar suas
perguntas com as competências inseridas no manual de avaliação que tem em mente. Não elabore
perguntas que não vai utilizar na avaliação e nem na descrição.
Com seu formulário pronto você começa a pensar como
planejar e promover o levantamento das atividades.
Com essa mensagem na cabeça - “Construa seus modelos a partir
do conhecimento que você quer investigar e que informações você quer coletar!” - (que você ouviu no curso) você volta
à cena. A primeira coisa a fazer é elaborar uma carta de encaminhamento aos
ocupantes dos cargos participantes do projeto.
Com a carta pronta para ser enviada, pense na situação:
muitas vezes o funcionário não tem muita verbalização ou fica sem jeito na hora
da entrevista e você, com pouca experiência em "arrancar" informações,
a entrevista pode virar um cenário com os dois trocando olhares perdidos no horizonte.
Lembre-se: Você consegue obter mais rendimento em uma
entrevista quando você já conhece de forma preliminar, as atividades do cargo a ser analisado. Primeiro
você deve enviar ao gestor do funcionário o questionário para preenchimento.
Nesse momento você explica ao gestor e ao funcionário como deve ser preenchido.
Quando concluído, você faz uma minuta descritiva, transformando na sua
linguagem tudo que o funcionário escreveu no questionário. Você volta ao
funcionário e discutem a minuta descritiva, consolidando-a, depois, com o
gestor. É muito mais prático e objetivo do que começar uma descrição pela
entrevista!
Como já falamos, Descrição de Cargo é o detalhamento
sequencial e lógico das atividades que formam um Cargo. Foque Ação,
Método e Resultado. Ao mapear os conceitos de valor das atividades integrantes,
você vai encontrar tarefas/processos que criam valor, tarefas/processos que não
criam valor, porém são necessárias e tarefas/processos que não criam valor e
podem ser eliminadas através de novos procedimentos.
Desenhe e separe funções específicas e funções corporativas.
Funções corporativas são as tarefas/processos que não criam valor, porém são
necessárias. São comuns a quase todos os cargos (atender telefone, arquivar
documento, anotar e transmitir recados, limpar ferramentas após o uso,...). Dê
destaque a processos. Faça descrições de cargo focadas em processos e que
possam ser atualizadas regularmente.
A descrição dos cargos deve ser clara e concisa. Evite
textos longos emendados por verbos no gerúndio, que tornam a leitura chata e
sonolenta com tantos “ando”. Procure utilizar sempre no início de cada
frase/processo, verbos no infinitivo.
Depois desse primeiro tempo, vem a fase de Classificação e Avaliação de Cargos, Estruturas Salariais, projetos de Remuneração Variável e PLR, confrontos com o Mercado, descrição da Política e dos Procedimentos Salariais, critérios de Implantação e outros itens de importância. Se sua empresa, mesmo tendo confiança em você, optou, nesse primeiro momento, contratar um consultor, acompanhe, entenda e assimile todos os passos dados. Em todos os momentos. Pergunte sempre. Domine a memória técnica concebida e aplicada. Com o curso que você fez (teoria) e com o monitoramento do consultor (prática), você vai aprender muito!
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Autônomo e Independente