Algum tempo atrás li em uma revista semanal de entretenimento um artigo com o seguinte título: “Brincadeira de RH”. Como o título chamou-me a atenção fui lá bisbilhotar.
O grande perigo para a credibilidade da área é a ânsia pelo novo e pelos modismos de gestão.
Além de resultados cada vez mais imediatos, as instituições não perdem tempo na hora de adotar, muitas vezes sem uma avaliação criteriosa, o que acreditam serem soluções promissoras.
Não é de
hoje que o mundo corporativo é invadido por todo tipo de técnicas de recursos
humanos em evidência. Um grupo de funcionários gritando aos quatro cantos
expressões de motivação guerreira como “RÁ”, vendedores sendo treinados para se
comportarem como pitbulls em busca de clientes, gurus e seus infalíveis manuais
de autoajuda (garantimos resultados em
apenas um mês) e palestras motivacionais com vencedores das
mais variadas competições e esportistas de sucesso.
Programas de treinamento e desenvolvimento ao ar livre já teve seus anos dourados. Só para lembrar a “novidade”, um dos primeiros programas vivenciais ao ar livre que se tem notícia foi desenvolvido na segunda guerra mundial pela marinha britânica. Tinha como objetivo simular desafios para o desenvolvimento da autoestima e confiança dos fuzileiros navais britânicos.
Nada
como um final de semana em um hotel fazenda dando as mãos uns aos outros,
subindo em árvores, atirando-se na lama, participando de rafting e ouvindo
palestras sobre a importância do trabalho em equipe e a superação de desafios.
Os gestores devem adorar! O fato é que não raro
profissionais de RH de instituições contratantes muitas vezes não sabem como acompanhar
e mensurar o efeito desses treinamentos. Nem a consultoria contratada ajuda
muito nisso.
Coaching também virou muito popular. A preocupação é que podem aparecer pessoas sem muita qualificação técnica e profissional que podem empobrecer um processo que deve ser utilizado apenas por um profissional realmente habilitado com ferramentas e metodologias testadas e aprovadas.
Voltando à Brincadeira de RH, a novidade consiste em colocar um grupo de funcionários em uma sala fechada para vasculharem pistas para serem “libertados”. Em inglês chama-se “Escape Games”. Tudo isso em sessenta minutos.
Segundo o propósito do programa, é ver como os profissionais se comportam na
cena de competição e pressão por resultado. Do lado de fora instrutores e
psicólogos acompanham o desafio por meio de monitores. Algumas consultorias
oferecem após o final da competição e de imediato, orientação psicológica
individual aos participantes a um custo opcional.
Pergunto: o funcionário está fora de seu ambiente de trabalho e de seu espaço de rotinas e iniciativas e sabe que está competindo e sendo avaliado (por isso pode ter um desempenho não habitual). Como pode um psicólogo após uma hora de competição orientar corretamente e diagnosticar um comportamento com fundamentos consistentes. O psicólogo, não por sua culpa, não conhece a empresa, não conhece seus valores e sua missão, não conhece o dia a dia na empresa e, muito menos, conhece a relação chefia/subordinado.
Atividades com equipes ou indivíduos colocados em competição ou para enfrentar desafios, muitas vezes geram situações constrangedoras e chatas.
É bom ressaltar que existem técnicas e/ou profissionais consistentes e de muito bom conteúdo que realmente trazem resultados eficientes tanto no aprimoramento dos funcionários quanto no desempenho das instituições.