Esse texto é uma
tradução de um artigo de David Owen publicado no Reader´s Digest (Edição
Asiática) em abril de 1992, extraído e disponibilizado na página do professor
Aaron Tan Tuck Choy, da Universidade Nacional de Singapura.
Esse texto reflete a
maneira confortável de enxergar as "coisas" como elas são e não o
questionamento do por que as "coisas" são assim.
Anos atrás, quando eu
frequentava minha pós graduação em RH, em uma das aulas, a Professora Cecília
Bergamini fez um exercício. Tínhamos que unir umas linhas que estavam cercadas
por um quadrado desenhado em um papel com apenas quatro movimentos. Quebramos a
cabeça e ninguém, por fim, conseguiu o feito. Após o teste, ela comentou que em
momento algum havia dito que não poderíamos sair do quadrado onde estavam as
linhas para uni-las e, sem sair do quadrado, era impossível uni-las. Todos nós
entendemos que as linhas tinham que ser unidas sem sair do quadrado, ou seja,
não conseguimos sair dos quatro cantos de um simples desenho.
Transpondo o
exemplo para o mundo corporativo, quantas vezes receamos sair da confortável
posição desenhada pelos quatro cantos do nosso cargo e ousar novos
questionamentos e desafios? As coisas estão aí para serem questionadas.
Analise, por exemplo, as comunidades virtuais de relacionamento que você
participa. Normalmente, costumam ter centenas de participantes. Lance um
questionamento e observe quantos se expõem e opinam sobre o que você
questionou. Com certeza você terá pouquíssimas respostas! Devemos
aprender que "Penso, logo questiono". Sem limites, só com
possibilidades!
Vamos ao
texto:
"O senhor Whitson ensinava
ciências para a 6ª série. No primeiro dia de aula ele nos falou sobre uma
criatura chamada cattywampus, um animal noturno extinto durante a Era do Gelo.
Ele passou para os alunos um crânio enquanto falava. Todos nós fizemos
anotações e depois respondemos a um teste sobre a aula.
Quando recebi a prova corrigida fiquei
surpreso. Havia um grande e vermelho X em todas as minhas respostas. Eu havia
falhado. Devia haver algum engano! Eu havia escrito exatamente o que o
professor Whitson havia dito na aula. Então percebi que todos na classe haviam
falhado. O que havia acontecido?
Muito simples, o professor explicou.
Ele havia inventado tudo o que falou sobre o cattywampus. Aquele animal nunca
havia existido, ou seja, toda a informação em nossas anotações estava errada.
Nós esperávamos crédito por respostas erradas?
Desnecessário dizer, nós ficamos
revoltados. Que tipo de teste era esse e que tipo de professor ele era?
Nós deveríamos ter descoberto o senhor
Whitson disse. Afinal, equanto ele passava o crânio do cattywampus pela sala
(que na verdade era o crânio de um gato), não estava afirmando que não havia
sobrado nenhuma evidência do animal? Ele havia descrito sua incrível visão
noturna, a cor de sua pelagem e muitos outros fatos que ele não poderia saber.
Ele havia dado ao animal um nome ridículo e mesmo assim ninguém havia
desconfiado. Os zeros em nossas provas iriam para a avaliação, ele disse. E
eles foram.
O professor Whitson disse que esperava
que aprendêssemos uma lição dessa experiência. Professores e livros didáticos
não são infalíveis. Na verdade, ninguém é. Ele nos disse para nunca deixar
nosso cérebro ficar desatento e a tomar satisfação sempre que pensássemos que
ele ou qualquer livro estivessem errados.
Toda aula com o professor Whitson era
uma aventura. Ainda posso lembrar de algumas aulas de ciências do começo até o
final. Um dia ele nos disse que seu carro era um organismo vivo. Nós demoramos
dois dias para bolar um argumento contrário que ele aceitasse. Ele não nos
deixava sossegar até que houvéssemos provado não só que sabíamos o que era um
organismo, mas também que tínhamos força para defender a verdade.
Nós levamos nosso recém-adquirido ceticismo
para todas as nossas aulas. Isso causou problemas para os outros professores,
que não estavam acostumados a serem desafiados. Nosso professor de história
começava a falar sobre algum assunto e de repente alguém limpava a garganta com
um “ram-ram” e dizia “cattywampus”.
Se alguém me pedisse uma proposta para
solucionar os problemas de nossas escolas, ela seria o professor Whitson. Eu
não fiz nenhuma grande descoberta científica, mas ele deu a mim e meus colegas
de classe algo tão importante quanto: a coragem de olhar outra pessoa no olho e
dizer que ela está errada. Ele também nos mostrou que você pode se divertir
nesse processo.
Nem todo mundo vê valor nisso. Uma vez
contei sobre o senhor Whitson a um professor de ensino fundamental, que ficou
horrorizado. “Ele não devia ter enganado você assim”, disse. Eu o olhei nos
olhos e disse que ele estava errado.
O texto acima é um dos materiais mais
interessantes que já vi sobre como o professor pode – e deve – ser o veículo de
transformação de maior importância para os alunos. Sou da opinião que a
proposta de ensino do prof. Whitson deve ser a pedra fundamental na formação de
novos professores e na reciclagem dos veteranos, principalmente – mas não
somente – nas disciplinas ligadas à Ciência."