terça-feira, 12 de março de 2019

Conheça a estória do seu Salário!

Antes do Plano Real a área de Administração de Cargos e Salários, como era amplamente denominada até anos atrás, diferentemente das áreas similares de outros países onde a inflação era controlada, passava praticamente o ano inteiro, na interpretação de legislação de correção salarial e em negociações sindicais.

 

Enquanto os colegas de outros países se preocupavam no enriquecimento dos cargos e atividades, na modelagem de novos conceitos de remuneração e outras nobrezas, nós nos víamos atualizando tabelas salariais, realizando pesquisas instantâneas, calculando deflação e criando indicadores de descompressão salarial.

 

Para ter uma ideia dessa “corrida maluca”, entre 1967 e 1993, tivemos seis moedas diferentes: Cruzeiro Novo (1967), Cruzeiro (1970), Cruzado (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (1990) e Cruzeiro Real (1993). O total de inflação acumulado nesse período foi de aproximadamente 1.142.332.741.811.850% (IGP-DI).

 

Este era o cenário da economia brasileira antes do Plano Real e o principal motivo que levou a equipe econômica do presidente Itamar Franco a apresentar mais uma tentativa de reorganizar a política fiscal e monetária do País. Assim, em 1º de julho de 1994 nascia o Plano Real. Nestes últimos 25 anos, a inflação acumulada no Brasil foi de aproximadamente 495% - IPCA/IBGE.

 

Oficialmente, o Plano Real foi iniciado em fevereiro de 1994 com a publicação de uma Medida Provisória que instituiu a Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetários, iniciou a desindexação da economia e determinou o lançamento de uma nova moeda, o Real.

 

O Plano Real mostrou-se nos anos seguintes o plano de estabilização econômica mais eficaz da nossa história ao reduzir a inflação, ampliar o poder de compra da população e  remodelar os setores econômicos.

 

A inflação que antes consumia o poder aquisitivo da população brasileira, impedindo que as pessoas permanecessem com o dinheiro por muito tempo, principalmente entre o banco e o supermercado, estava controlada. O consumidor de baixa renda foi o principal beneficiário à época.

 

Em 1º de julho de 1994, com o lançamento da nova moeda, estabeleceu-se a paridade CR$2.750,00 (Cruzeiro Real) para cada R$1,00 (Real).

 

Voltando às políticas salariais brasileiras, em outubro de 1979, o então Ministro do Trabalho, Murillo Macedo, criou a Lei 6.708/79, tida como milagrosa! Entre outros itens, a Lei 6.708/79 implantou a correção semestral de salários e a aplicação do índice de inflação referencial (INPC) sob a forma de “cascata”.

 

Quem ganhava até três salários mínimos seria aplicado 100% da inflação acrescido de mais 10% e quem ganhava acima de vinte salários mínimos, a aplicação era em forma de resíduos das aplicações nas faixas anteriores. À época, a inflação anual girava em torno de 20 a 25% e era prática corrente as empresas anteciparem, passados seis meses da data base, um percentual fundamentado nas projeções inflacionárias. Na cabeça do Ministro ocorreu que, como as empresas já antecipavam espontaneamente, não iria impactar tornar obrigatório.

 

Esqueceu que só as grandes antecipavam!

 

Logo nos primeiros seis meses da vigência da nova Lei a inflação foi de 22%. No começo do sétimo mês tudo ou quase tudo que foi repassado aos trabalhadores transpôs-se aos custos de produção. 

 

É bom lembrar que em épocas inflacionárias a equação era custo mais lucro desejado é igual ao preço de venda

 

Essa Lei sofreu um sem número de correções até ser substituída. O único item que acabou sobrando foi o pagamento de um salário em caso de demissão no mês que antecede a data base das categorias profissionais. 

 

Uma projeção que dizia que se a Lei fosse aplicada na forma como foi concebida, em alguns anos todos no país iriam ganhar onze salários mínimos devido à “cascata e à aplicação de resíduos”.

 

Uma das medidas do plano real estabeleceu a desindexação da economia, ou seja, nada pode ser corrigido de forma automática em função da simples aplicação do reajuste do salário mínimo. Ocorre que algumas categorias profissionais que têm o salário mínimo como referência (engenheiros, por exemplo) ganharam na justiça essa continuidade.

 

O sonho do poder aquisitivo não perdurou por muito tempo. Em julho de 1994, na conversão para a moeda Real, um Assistente Administrativo passou a ganhar, em média, R$500,00. Com a aplicação dos 495%, 25 anos depois, o valor seria algo em torno de R$2.750,00. Quantos Assistentes Administrativos bateriam à porta de sua empresa hoje por bem menos que esse valor?

 

Um Gerente de 2º/3º escalão nessa época passou a ganhar R$5.000,00, que 25 anos depois seriam quase R$28.000,00. Quantos efetivamente ganham isso e quantos bateriam à porta de sua empresa hoje por R$ 6.000,00/R$ 7.000,00?

 

Recente notícia transmitida pelo Jornal Nacional da Rede Globo afirmou que a média salarial nacional para um Gerente/Diretor é de R$ 6.200,00.

 

Analise o cargo de Gerente de Recursos Humanos. Com a terceirização predatória da área, inúmeras empresas dispensaram seus gerentes, homens ou mulheres, e contrataram, em sua maior parte, psicólogas ou psicólogos recém formados ou com poucos anos de formado/experiência. A partir desse momento o salário gerencial de RH despencou. 

 

As atividades mais complexas seriam feitas por consultores, homens ou mulheres, contratados para esse fim.


Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Aposentado e sempre Independente



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