Para iniciar este artigo apresento a seguir duas perguntas
formuladas pela Revista Veja, edição 2179, com Carlos Brito, presidente mundial
da AB Inbev, a maior cervejaria do mundo.
Veja: Isso significa também tolerância zero com desempenhos
individuais abaixo da média?
Carlos Brito: Aqui, quando uma pessoa apresenta baixa performance,
temos que procurar ajudá-la a cobrir aquela deficiência, dar uma segunda
chance. Se a pessoa não está mesmo dando certo aqui, achamos que é nossa
obrigação, porque a vida é muito curta, dizer “Você pode ser bem sucedida em
muitas companhias, mas aqui não tem jeito”. Prefiro dizer isso logo, quando o
profissional é jovem, a ficar dez anos enrolando. Quando chegamos à AmBev , por
exemplo, a avaliação de desempenho de todo mundo era “excepcional”. Porque
ninguém tinha a coragem de dizer para o outro a verdade, entendeu? Cheguei
lá e disse que as pessoas talentosas gostam de três coisas: meritocracia,
honestidade e um ambiente informal. O sujeito talentoso é a favor da
meritocracia e não gosta de senioridade. Aliás, isso é coisa do exército, em
que o mais velho tem preferência na lista de promoção. Aqui, temos exemplos aos
quilos de pessoas que passaram à frente de outras por competência. É a
meritocracia, que muita gente prega mas não faz. Seria muito mais fácil
promover o funcionário mais antigo do que o mais novo ou aquele de quem o
pessoal gosta muito. Se você promover o Mike. Que está há vinte anos na companhia,
é porque o “Mike merece”. Mas se promover o John, que chegou há um ano,
desafiará um monte de gente. Só que, se você promover os Mikes por senioridade,
os Johns talentosos se mandam e a empresa não vai a lugar nenhum.
Veja: Como resumir essa sua filosofia:
Carlos Brito: Acredito que ser justo é tratar pessoas diferentes de
formas diferentes. Tratar todo mundo igual é injusto. Aquelas pessoas que são
apaixonadas, se dedicam mais à empresa, dão mais resultados – essas pessoas
merecem mais oportunidades que as outras, mais atenção, mais treinamento. E
elas tem de ganhar dinheiro também. Já que é impossível agradar a todos, vou
agradar àqueles com maior talento. Sinto muito pelos menos talentosos, mas...
Sem dúvida, o comportamento e as atitudes fazem de Carlos
Brito um executivo brilhante, um exemplo a ser seguido e, mais
ainda, absolutamente "ele mesmo!". Se eu fosse mais jovem, seria
uma vitória trabalhar com ele,...!
Aproveito o trecho dessa entrevista quando
ele diz, "Prefiro dizer isso logo, quando o
profissional é jovem, a ficar dez anos enrolando", e
comento o jeito padrão brasileiro de ser. Tanto na vida pessoal como na
vida profissional quando temos que tomar uma decisão que afetará alguém.
Quem mais sofre com gestores medrosos e medíocres é a área de RH!
Quantas e quantas vezes os gestores com medo de
demitir um funcionário conclamam a brigada de RH para fazê-lo?
Quantas e
quantas vezes alguém convida um conhecido para uma visita social à sua empresa
e na hora marcada manda dizer que está em reunião?
Quantas e quantas vezes
marcamos com amigos uma balada, todos confirmam para não ficar chato, e ninguém
aparece ou telefona?
O brasileiro não aprendeu que quando não está afim ou
quando não pode fazer alguma coisa ou até mesmo quando não quer receber alguém
dizer logo: "Olha, hoje eu não tô afim de sair, não posso recebê-lo em
minha empresa, não tenho nenhuma oportunidade de trabalho, ..."
É mais sincero dizer a verdade do que ficar
enrolando como bem disse o Carlos Brito
Se você quer apresentar uma proposta
de trabalho para uma empresa, que não precisa de você naquele momento, é comum
você ouvir "estamos analisando, aguarde mais uma semana, vou marcar uma
reunião com a Diretoria, me envia uma proposta com orçamento,...".
Isso vira ansiedade e cria
uma falsa expectativa que
aquele empregador ou aquela empresa
vai lhe chamar!
Nas empresas multinacionais, europeias
principalmente, é muito comum um gestor ou um colega de trabalho vindo da
matriz, dizer para você coisas que você certamente não ouviria em uma empresa
brasileira.
Você convida o colega para ir ao cinema e ele diz
"hoje não tô afim"!. Pronto, foi sincero, nunca mal educado! Ele lhe diz, "não gostei do seu trabalho sobre tal assunto, você tem que se esforçar
mais!" Aí, parece que o mundo acabou. Foi sincero, nunca mal educado.
Esse
é o choque mais comum da cultura brasileira, que imita a cultura americana, não
reconhece a sinceridade. Prefere a cultura do fingimento.
Prefere
ouvir ou dizer que todo mundo é excepcional, que todos gostam de mim, que
minha área é prestigiada e por aí vai. Pensem nisso!
Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Aposentado e Sempre Independente
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