quinta-feira, 22 de março de 2018

Revirando a estória - suicídio no terceiro andar


 Em 2007, seis trabalhadores da linha de produção do grupo automobilístico francês PSA (Peugeot-Citroen) se suicidaram. O último caso foi o de um trabalhador de cinqüenta e cinco anos, pai de dois filhos e que estava na empresa há vinte e nove anos.

Bruno Lemerle, do sindicato francês de direita CGT, ao se referir ao caso disse "Hoje domina o individualismo obstinado. Cada funcionário está em competição com o outro. Constantemente com os dirigentes respirando em seu pescoço, os quais estão, por sua vez, também sob pressão. Nas empresas desapareceu qualquer forma de humanidade e não existe nenhum espírito de família nem de amizade".

Segundo os sindicatos dos trabalhadores da PSA, há alguns anos domina na empresa um "clima de incerteza", ligado às ameaças de deslocamento e à reestruturação organizacional, além da "concorrência entre os jovens engenheiros e os velhos técnicos".

Nessa mesma época, em uma fábrica da Renault, também ocorreram três suicídios. Há poucos dias, foi noticiado o vigésimo quarto suicídio, em dezoito meses, na France Telecom, empresa de telefonia de economia mista, com cem mil trabalhadores em toda a França. O que acontece no mundo corporativo?

A capacidade de permanecer funcionalmente ativo em uma sociedade cada vez mais competitiva exige um ser humano lúcido e emocionalmente estruturado. Atento, cada vez mais, às areias movediças que costumam aparecer no mundo corporativo.

Vivemos o marasmo de conviver sob a mediocridade do individualismo e da concorrência predatória? Muitas empresas, na definição de seus valores, apregoam a competência “Saber trabalhar em Equipe”. Um dos itens de avaliação em entrevistas de seleção e de programas de gestão e avaliação de desempenho é, invariavelmente, “Trabalho em Equipe”. Porém, essas mesmas empresas, costumam semear a competição e expor seus funcionários ao próprio limite.

A percepção do ser humano em relação às coisas que o cercam, hoje em dia, influenciada pela mídia, pela pressão corporativa, pelo momento pessoal e/ou profissional, pela internet, pelo mundo globalizado, pode mudar rapidamente, tornando tudo à sua volta chato e depressivo.

Diante da explícita necessidade do ser humano se fazer presente de forma natural e não caricata, diante de candidatos a emprego cada vez mais pré programados e marqueteiros, diante da chatice do mundo corporativo cada vez mais depressivo e opressor, diante da expressão “se você não fizer alguém faz”, a área de Gestão de Pessoas tem a obrigação de quebrar tudo e começar a construir novos cenários e uma proposta de revisão de conceitos e preconceitos no mundo corporativo, pois alguma coisa está errada.


quarta-feira, 14 de março de 2018

Consultor Home Office - A vida é dura meu amigo!


Quando saí da última empresa que trabalhei como Gerente de RH, uma auto peças, comprada por uma multinacional durante o Governo Collor (como muitas), a primeira coisa que me passou pela cabeça foi criar coragem, sair da minha zona de conforto e tornar-me Consultor. Um CHO. Afinal, Consultor vende conhecimento adquirido e, àquela altura, eu tinha absoluta convicção que poderia vender conhecimento adquirido. Fui à luta também, para não mais viver aqueles incômodos períodos de “corte” tão comuns nas empresas. Trabalhei em uma empresa que num mês de setembro todas as quatro sextas feiras houve cortes de funcionários. Imaginem o clima de quem ficou para a próxima sexta feira. Não fui dessa vez!

Meu primeiro cliente foi uma distribuidora de veículos nacionais que por decisão de seu proprietário queria deixar de ser loja e virar empresa. A empresa estava em franca expansão e o mercado aquecido. Confesso que voltei a ter pensamentos de assalariado, pois atuei somente nessa empresa por quase cinco anos dado meu conforto e relação com o proprietário. Por estar tão bem envolvido no mercado automotivo depois desse cliente fui para outro do mesmo ramo e muito mais forte. Também atuei por quase cinco anos. Como Consultor!

Minha vida diversificada de fato começou em 2002 quando passei a atuar por uma Universidade Federal em consultorias internas e consultorias externas na área pública. Em paralelo, também comecei a atuar novamente no mercado privado. Ora independente, ora associado. Como associado é preciso ter muito cuidado com a parceria. Meu primeiro contrato associado foi excelente e guardo ótimas recordações. Os outros deixaram a desejar. Optaram pela política de “menos é mais”. Menos remuneração e mais entrega de conhecimento!

Um fato importante que você tem que aprender é quando você vende um trabalho e a equipe do cliente lhe trata bem ou é em uma empresa similar àquelas que você trabalhava como assalariado, nunca imagine que você faz ou fará parte da equipe. Você foi contratado para um serviço com início, meio e fim. Só isso. Convença-se disso e faça o melhor, pois um bom trabalho gerará outros.

Eu sei que em uma situação dessas dá uma saudade enorme dos outros tempos, mas esses outros tempos já se foram. O seu momento é agora. Já passei por isso.

Em um projeto que eu estava realizando para uma construtora de grosso calibre, uma pesquisa salarial, ao contatar uma das convidadas para a pesquisa não fui bem recebido mesmo citando que era em nome da construtora mais poderosa que a dela. Após ela entrar em contato com a minha cliente fiquei sabendo que o motivo era porque eu não tinha apresentado meu telefone fixo e quem era esse tal de consultor. Essa estória reflete bem as dificuldades que passam os Consultores Independentes. Costumam indicar o celular (o fixo é da residência) e não possuem espaço físico em um edifício comercial!

Muitos RH´s que tive contato e que se mostraram prepotentes e desatenciosos nas entrevistas comerciais, mais pelo poder da empresa que trabalhavam do que pela competência, estão disponíveis no mercado.

Outra situação desagradável que costuma ocorrer é por você estar “desempregado” na visão de alguns, uma consultoria lhe chamar para “lhe ajudar!”. Procuram pagar o mínimo possível, pois estão lhe ajudando, e tentam absorver todo seu conhecimento!

Não se desiluda, tem muito RH sangue bom que vai lhe atender com todo carinho e respeito. Eles precisam de você e de seu conhecimento adquirido. Prepare seu celular, seu notebook, seus livros e seu pensamento. Quando a época é sem contratos visite outros amigos consultores, pesquise redes sociais, pesquise e-mails de empresas que você poderia vender seus serviços, confeccione um cartão de visitas e mantenha-os sempre no bolso, leia seus arquivos, trabalhos já realizados, pesquise bastante na internet. Você tem tempo para isso!

terça-feira, 6 de março de 2018

Prefiro dizer isso logo, quando o profissional é jovem, a ficar dez anos enrolando!


Duas perguntas com duas perguntas formuladas pela Revista Veja, edição 2179, com Carlos Brito, presidente mundial da Inbev:

Veja: Isso significa também tolerância zero com desempenhos individuais abaixo da média?

Carlos Brito: Aqui, quando uma pessoa apresenta baixa performance, temos que procurar ajudá-la a cobrir aquela deficiência, dar uma segunda chance. Se a pessoa não está mesmo dando certo aqui, achamos que é nossa obrigação, porque a vida é muito curta, dizer “Você pode ser bem sucedida em muitas companhias, mas aqui não tem jeito”. Prefiro dizer isso logo, quando o profissional é jovem, a ficar dez anos enrolando. Quando chegamos à AmBev , por exemplo, a avaliação de desempenho de todo mundo era “excepcional”. Porque ninguém tinha a coragem de dizer para o outro a verdade, entendeu? Cheguei lá e disse que as pessoas talentosas gostam de três coisas: meritocracia, honestidade e um ambiente informal. O sujeito talentoso é a favor da meritocracia e não gosta de senioridade. Aliás, isso é coisa do exército, em que o mais velho tem preferência na lista de promoção. Aqui, temos exemplos aos quilos de pessoas que passaram à frente de outras por competência. É a meritocracia, que muita gente prega mas não faz. Seria muito mais fácil promover o funcionário mais antigo do que o mais novo ou aquele de quem o pessoal gosta muito. Se você promover o Mike. Que está há vinte anos na companhia, é porque o “Mike merece”. Mas se promover o John, que chegou há um ano, desafiará um monte de gente. Só que, se você promover os Mikes por senioridade, os Johns talentosos se mandam e a empresa não vai a lugar nenhum.

Veja: Como resumir essa sua filosofia:

Carlos Brito: Acredito que ser justo é tratar pessoas diferentes de formas diferentes. Tratar todo mundo igual é injusto. Aquelas pessoas que são apaixonadas, se dedicam mais à empresa, dão mais resultados – essas pessoas merecem mais oportunidades que as outras, mais atenção, mais treinamento. E elas tem de ganhar dinheiro também. Já que é impossível agradar a todos, vou agradar àqueles com maior talento. Sinto muito pelos menos talentosos, mas...

Aproveito o trecho dessa entrevista quando ele diz, "Prefiro dizer isso logo, quando o profissional é jovem a ficar dez anos enrolando", e comento o jeito padrão brasileiro de ser, tanto na vida pessoal como na vida profissional, quando temos que tomar uma decisão que afetará alguém.

Quantas e quantas vezes os Gestores com medo de demitir um funcionário conclamam a brigada de RH para fazê-lo? Quantas e quantas vezes alguém convida um conhecido para uma visita social à sua empresa e na hora marcada manda dizer que está em reunião? Quantas e quantas vezes marcamos com amigos uma balada, todos confirmam para não ficar chato, e ninguém aparece ou telefona?

Certa vez, quando consultor,  encontrei um executivo de um ex empregador que convidou-me a tomar um café e trocar ideias. Telefonei à sua secretária que agendou umas três semanas depois. Quando cheguei à recepção da empresa lá estava ele conversando com algumas pessoas. Esperei ele terminar a conversa e antes que eu falasse alguma coisa foi logo dizendo que o “Doutor” estava chamando para uma reunião. Estava nada claro!   

O brasileiro não aprendeu que quando não está afim ou quando não pode fazer alguma coisa ou até mesmo quando não quer receber alguém dizer logo: "Olha, hoje eu não estou afim de sair, não posso recebê-lo em minha empresa, não tenho nenhuma oportunidade de trabalho, ..."

É mais sincero dizer a verdade do que ficar enrolando como bem disse o Carlos Brito. Se você quer apresentar uma proposta de trabalho para uma empresa, que não precisa de você naquele momento, é comum você ouvir "estamos analisando, aguarde mais uma semana, vou marcar uma reunião com a Diretoria, me envia uma proposta com orçamento,...".

Isso vira ansiedade e cria uma falsa expectativa que
aquele empregador ou aquela empresa vai lhe chamar!

Nas empresas multinacionais, europeias principalmente, é muito comum um gestor ou um colega de trabalho vindo da matriz, dizer para você coisas que você certamente não ouviria em uma empresa brasileira ou de um colega de trabalho brasileiro.

Convida o colega para ir ao cinema e ele diz "hoje não estou afim"!. Pronto, foi sincero, nunca mal educado!

 "Não gostei do seu trabalho sobre tal assunto, você tem que se esforçar mais!" Aí, parece que o mundo acabou. Foi sincero, nunca mal educado.

Esse é o choque mais comum da cultura brasileira, que imita a cultura americana, não reconhece a sinceridade. 

Prefere a cultura do fingimento. Prefere ouvir ou dizer que todo mundo é excepcional, que todos gostam de mim, que minha área é prestigiada e por aí vai. Pensem nisso!

Carlos Alberto de Campos Salles
Consultor de Recursos Humanos
Aposentado e Sempre Independente