Excelente artigo do André Moragas editado no "O Globo"! Retrata bem
o dia a dia da comunicação que reina no mundo corporativo. Só para
ilustrar, tempos atrás, eu estava em uma prefeitura "politicamente
correta" e comentei espontaneamente que "já poderíamos organizar um
workshop". Fui repreendido pela Coordenadora "politicamente
correta" do projeto que eu deveria expressar oficina de trabalho e não
workshop. Concordei imediatamente com ela. Algumas semanas depois, ao cruzar
com ela no corredor, fui notificado: "Carlos, pode startar o projeto!",...
Blog Na hora do cafezinho - André Moragas - 02.02.2011
Outro dia conversava com um conhecido sobre a
importância do inglês no mundo corporativo e fui surpreendido com a seguinte
frase: “meu writing é muito bom, mas meu speaking precisa melhorar”. Nesse
momento, pensei: para o mundo que eu quero descer! Não tenho dúvidas (e é
melhor que ninguém tenha) de que saber inglês hoje é requisito básico de
qualquer currículo que se preze. Mas o que não consigo engolir são pessoas
usando expressões em inglês no meio de uma conversa para demonstrar algum tipo
de competência.
Não se engane, quem sabe inglês e se garante não
precisa ficar introduzindo palavras no meio de uma fala só para demonstrar que
sabe. Na minha sincera opinião, substituir palavras em português por expressões
em inglês beira o pedantismo e a arrogância, e demonstra apenas a insegurança
do interlocutor.
O problema é que essa invasão americana é cada
vez mais comum na nossa língua (uma das mais ricas do mundo em vocabulário).
Nessas horas (quando ouço esse tipo de expressão), dá vontade decopiar o mestre
Ancelmo Gois, que escreve com muita propriedade contra essa mania corporativa:
“writing e speaking é o cacete!”.
Não faz muito tempo participei de um grupo de
trabalho de comunicação e ouvi a seguinte pérola:“vamos preparar um position
paper, baseado no Questions and Answers (Q&A). Assim, fica mais fácil
propor um speech adequado ao reporting que foi feito no passado. Depois
realizamos o media training e startamos o projeto”. Pronto, foi o que eu
precisava para levantar dizendo que iria ao banheiro e não voltar mais. É claro
que depois, sem o “papagaio americanizado” na sala, fechamos um texto de resumo
e preparamos o discurso necessário, além de um documento com perguntas e
respostas prováveis sobre o assunto.
O engraçado é que, em geral, esse comportamento
ficava restrito ao pessoal de marketing e comunicação. Mas ultimamente, em
qualquer ambiente, independentemente da formação do profissional, a utilização
de expressões americanas é cada vez mais frequente. Tenho algumas teorias para
explicar o fenômeno, desde a utilização cada vez mais frequente da internet e
redes sociais à interação crescente dos mercados. Mas, para mim, nada é tão
forte quanto a necessidade dos profissionais inseguros de parecerem
inteligentes diante da platéia. Assim como o power point (que pode ser
traduzido para “apresentação”), a utilização de expressões em inglês sacadas de
dentro da cartola no meio de um discurso em português vem transformando-se em
uma bengala poderosa para profissionais inseguros e despreparados.
Ok ou tá bom (pronto, já comecei a traduzir). Já
estou até imaginando algumas pessoas criticando o texto e dizendo que não há
como traduzir algumas expressões e que o seu uso em inglês é totalmente
necessário. Duvido. Se não há tradução literal da palavra, certamente há a
possibilidade de traduzir o conceito do que ela significa. Ah, mas vai ter
aquele que vai defender que a expressão já se tornou comum nos mercados e que
não há como deixar de usá-las. Podendo, inclusive, dificultar o entendimento de
conversas. Também duvido. Não consigo imaginar uma expressão em inglês
traduzida para o português que dificulte a compreensão dos interlocutores. Bom,
sem alguém tiver alguma, apresente-me, por favor.
Para fechar, a utilização ou não desse tipo de
expressão, descaracterizando a nossa língua, mostra a grande diferença entre
“colonizado” e “colonizadores”.
Recentemente estive na Espanha e uma das coisas que mais me impressionaram foi como os espanhóis defendem sua língua. E como dificilmente permitem expressões de qualquer outro idioma no seu dia a dia. Já nós...
Recentemente estive na Espanha e uma das coisas que mais me impressionaram foi como os espanhóis defendem sua língua. E como dificilmente permitem expressões de qualquer outro idioma no seu dia a dia. Já nós...