segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Eu, você e o Rubinho!


Reedito o primeiro artigo deste Blog postado em outubro de 2009 
sendo fiel ao original!


Em abril de 1993, o então quase desconhecido Rubens Barrichelo, entrou para o seleto clube da Fórmula 1. Rubinho, como é conhecido, depois de ganhar vários títulos nas categorias inferiores, finalmente chegou à categoria maior. Passo a passo, vinha planejando sua carreira de piloto. Até aí tudo bem. Poderia ser mais um caso de sucesso absoluto de um esportista brasileiro. Porém, antes de ser apenas Rubinho, teve que carregar o estigma criado pela mídia tupiniquim de, a qualquer custo, substituir o insubstituível Ayrton Senna.

Li recentemente um artigo com o título “Ninguém é insubstituível”. O professor discorria sobre o tema quando um aluno perguntou: “Quem substituiu Bethoven, professor?”. Daí uma série de nomes vieram à tona e o professor perdeu seus argumentos. O Ayrton é insubstituível. Ponto final. Rubinho, muito jovem naquele momento, praticamente iniciando sua carreira, foi sempre criticado a cada falha de pilotagem ou quebra mecânica, pois a mídia e seus patrões (nós brasileiros) queríamos a qualquer custo vê-lo no pódio. Não por ele, mas sim, para lembrar Ayrton.

Continuando seu projeto de vida, ingressou na Ferrari. Agora sim. Vai ser campeão. Nesse momento, esqueceram que havia um titular na Ferrari. O mesmo alemãozinho que fez Ayrton perder a vida ao tentar ultrapassá-lo obstinadamente, numa pequena reta que tinha ao fim, uma curva perigosa e fatal. Assim como Gerhard Berger era o segundo piloto da McLaren, Rubinho era o segundo piloto da Ferrari. Ambos funcionários. Ambos obedeciam ordens. Ambos tinham que trabalhar em equipe e para a equipe. E as equipes já tinham um “líder”.

Como é trabalhar suportando tanta pressão? Da mídia que cobra o sucesso (está pagando para isso), dos torcedores de Fórmula 1 fazendo comparações o tempo todo e sendo personagem, até os dias de hoje, de bordões e quadros humorísticos. Você agüentaria?

Você que está há 5, 10 anos (fazendo o que gosta) em uma mesma empresa ou em empresas diferentes, atuando como Analista, Chefe ou Gerente, aguentaria sua família cobrando o tempo todo que está na hora de virar Chefe, Gerente ou Diretor? Ao refletir sobre essa pergunta, lembre-se: você faz o que gosta! Como família, entenda também sociedade.

Não importa se você faz o que gosta e ganha seu “rico dinheirinho” assim. A cobrança está no ar o tempo todo. Uma vez Bob Dylan disse que “o homem feliz é aquele que acorda e vai dormir e no meio desse tempo fez o que gosta”. Pense nisso.

Assim como você, Rubinho era funcionário. Nos anos em que trabalhou na Ferrari seguia e cumpria ordens. Trabalhar para que tudo corresse bem para o líder de sua equipe. Nesse papel saiu-se muito bem. Foi várias vezes segundo lugar. O seu “emprego” era ser segundo lugar. Tentar ser primeiro só quando o líder estivesse fora de uma corrida. Mesmo assim, havia outros competidores de alto nível. Igual que na sua empresa. Sempre há outros competidores. Você que atua em uma empresa há um bom tempo e tem ciência de que sua colaboração foi muito importante em vários momentos de sucesso, como se sentiria se, na festa de comemoração de sucessos atingidos, fosse literalmente esquecido? Em uma grande festa que a Ferrari promoveu há um tempo atrás, foram nominados todos os pilotos que por lá passaram. Adivinha quem não foi lembrado?

Como queria continuar fazendo o que gosta, Rubinho foi ser piloto em uma “empresa” menor, menos competitiva. Sua obrigação não era vencer campeonatos, mas sim, testar e auxiliar no preparo futuro de motores mais competitivos.

Acaba sendo estimulante assistir palestras motivacionais de esportistas vencedores em suas áreas de atuação. Você já deve ter assistido uma e com certeza, já tinha muita informação a respeito do palestrante. A psicologia nos ensina que é comum a projeção da realização pessoal através do sucesso dos ídolos. Quando se busca criar ambientes organizacionais que despertem a motivação tudo é válido. Agora, lembre-se que bastou uma derrota para que a agenda de palestras do técnico da seleção brasileira, que perdeu a copa da Alemanha, ficasse vazia e seu livro “Como forjar uma equipe de campeões” encalhasse nas livrarias. O técnico continua fazendo o que gosta. Esportistas que faziam muitas palestras motivacionais tempos atrás, quando começaram a perder, deixaram os palcos. Uma carreira não pode ser esquecida por causa de uma derrota ou por uma promoção que não saiu. Campeão de uma copa é só um. Se sua empresa tem dez gerentes, são só dez gerentes. Se tem cinco diretores, são só cinco diretores. Outras copas virão, outras promoções virão.

Em sua área de atuação, Rubinho está “velho” para o mercado. Como quer continuar fazendo o gosta, foi à luta e conseguiu um novo contrato para a temporada que se avizinha. Não tem por obsessão ser campeão do mundo. Quer apenas ser Rubinho. Quer apenas continuar pilotando. Você o convidaria para dar uma palestra em sua empresa? Uma palestra com o tema “trabalhar sob pressão”, por exemplo?

Rubinho é um brasileiro comum. Igual a milhares por aí. Tem como diferencial ganhar a vida fazendo o que gosta e luta por isso. Mesmo com toda a pressão que recebe. Você aguentaria?