Reedito o primeiro artigo deste Blog postado em outubro de 2009
sendo fiel ao original!
Em abril de 1993, o então quase desconhecido Rubens
Barrichelo, entrou para o seleto clube da Fórmula 1. Rubinho, como é conhecido,
depois de ganhar vários títulos nas categorias inferiores, finalmente chegou à
categoria maior. Passo a passo, vinha planejando sua carreira de piloto. Até aí
tudo bem. Poderia ser mais um caso de sucesso absoluto de um esportista
brasileiro. Porém, antes de ser apenas Rubinho, teve que carregar o estigma
criado pela mídia tupiniquim de, a qualquer custo, substituir o insubstituível
Ayrton Senna.
Li recentemente um artigo com o título “Ninguém
é insubstituível”. O professor discorria sobre o tema quando um aluno
perguntou: “Quem substituiu Bethoven, professor?”. Daí uma série de nomes
vieram à tona e o professor perdeu seus argumentos. O Ayrton é insubstituível.
Ponto final. Rubinho, muito jovem naquele momento, praticamente iniciando sua
carreira, foi sempre criticado a cada falha de pilotagem ou quebra mecânica,
pois a mídia e seus patrões (nós brasileiros) queríamos a qualquer custo vê-lo
no pódio. Não por ele, mas sim, para lembrar Ayrton.
Continuando seu projeto de vida, ingressou na
Ferrari. Agora sim. Vai ser campeão. Nesse momento, esqueceram que havia um
titular na Ferrari. O mesmo alemãozinho que fez Ayrton perder a vida ao tentar
ultrapassá-lo obstinadamente, numa pequena reta que tinha ao fim, uma curva
perigosa e fatal. Assim como Gerhard Berger era o segundo piloto da McLaren,
Rubinho era o segundo piloto da Ferrari. Ambos funcionários. Ambos obedeciam
ordens. Ambos tinham que trabalhar em equipe e para a equipe. E as equipes já
tinham um “líder”.
Como é trabalhar suportando tanta pressão? Da
mídia que cobra o sucesso (está pagando para isso), dos torcedores de Fórmula 1
fazendo comparações o tempo todo e sendo personagem, até os dias de hoje, de
bordões e quadros humorísticos. Você agüentaria?
Você que está há 5, 10 anos (fazendo o que
gosta) em uma mesma empresa ou em empresas diferentes, atuando como Analista,
Chefe ou Gerente, aguentaria sua família cobrando o tempo todo que está na hora
de virar Chefe, Gerente ou Diretor? Ao refletir sobre essa pergunta, lembre-se:
você faz o que gosta! Como família, entenda também sociedade.
Não importa se você faz o que gosta e ganha seu
“rico dinheirinho” assim. A cobrança está no ar o tempo todo. Uma vez Bob Dylan
disse que “o homem feliz é aquele que acorda e vai dormir e no meio desse tempo
fez o que gosta”. Pense nisso.
Assim como você, Rubinho era funcionário. Nos
anos em que trabalhou na Ferrari seguia e cumpria ordens. Trabalhar para que
tudo corresse bem para o líder de sua equipe. Nesse papel saiu-se muito bem.
Foi várias vezes segundo lugar. O seu “emprego” era ser segundo lugar. Tentar
ser primeiro só quando o líder estivesse fora de uma corrida. Mesmo assim,
havia outros competidores de alto nível. Igual que na sua empresa. Sempre há
outros competidores. Você que atua em uma empresa há um bom tempo e tem ciência
de que sua colaboração foi muito importante em vários momentos de sucesso, como
se sentiria se, na festa de comemoração de sucessos atingidos, fosse
literalmente esquecido? Em uma grande festa que a Ferrari promoveu há um tempo
atrás, foram nominados todos os pilotos que por lá passaram. Adivinha quem não
foi lembrado?
Como queria continuar fazendo o que gosta,
Rubinho foi ser piloto em uma “empresa” menor, menos competitiva. Sua obrigação
não era vencer campeonatos, mas sim, testar e auxiliar no preparo futuro de
motores mais competitivos.
Acaba sendo estimulante assistir palestras
motivacionais de esportistas vencedores em suas áreas de atuação. Você já deve
ter assistido uma e com certeza, já tinha muita informação a respeito do
palestrante. A psicologia nos ensina que é comum a projeção da realização
pessoal através do sucesso dos ídolos. Quando se busca criar ambientes
organizacionais que despertem a motivação tudo é válido. Agora, lembre-se que
bastou uma derrota para que a agenda de palestras do técnico da seleção
brasileira, que perdeu a copa da Alemanha, ficasse vazia e seu livro “Como
forjar uma equipe de campeões” encalhasse nas livrarias. O técnico continua
fazendo o que gosta. Esportistas que faziam muitas palestras motivacionais
tempos atrás, quando começaram a perder, deixaram os palcos. Uma carreira não
pode ser esquecida por causa de uma derrota ou por uma promoção que não saiu.
Campeão de uma copa é só um. Se sua empresa tem dez gerentes, são só dez
gerentes. Se tem cinco diretores, são só cinco diretores. Outras copas virão,
outras promoções virão.
Em sua área de atuação, Rubinho está “velho”
para o mercado. Como quer continuar fazendo o gosta, foi à luta e conseguiu um
novo contrato para a temporada que se avizinha. Não tem por obsessão ser
campeão do mundo. Quer apenas ser Rubinho. Quer apenas continuar pilotando.
Você o convidaria para dar uma palestra em sua empresa? Uma palestra com o tema
“trabalhar sob pressão”, por exemplo?
Rubinho é um brasileiro comum. Igual a milhares
por aí. Tem como diferencial ganhar a vida fazendo o que gosta e luta por isso.
Mesmo com toda a pressão que recebe. Você aguentaria?