Releitura de artigo publicado em novembro de 2009!
“A maioria dos
profissionais da área não quer enxergar nem atuar além do próprio umbigo. Usam
máscaras e praticam a cultura do fingimento. Finge-se compromisso, finge-se
participação, finge-se respeito pela área... e assim seguimos.”
– Citação provocadora do
Professor Fernando Gonçalves, num congresso de Recursos Humanos no Recife,
década de 1990.
Nos anos 60, com a
chegada da indústria automotiva e outras multinacionais ao Brasil, começou-se a
redesenhar o então chamado “Departamento de Pessoal” – o famoso DP – para algo
mais próximo das Relações Industriais. Curiosamente, o termo "DP"
ainda resiste em muitos organogramas atuais, mesmo onde o nível “departamento”
nem sequer existe formalmente.
Na época, os formulários
e manuais importados foram traduzidos e aplicados tal como vieram, sem qualquer
adaptação à realidade brasileira, aos nossos valores, ou à nossa cultura. Em
pouco tempo, empresas de todos os setores criaram as suas áreas de Relações
Industriais.
Com o passar do tempo,
esse conceito evoluiu – ou, nalguns casos, apenas mudou de nome – até ao que
hoje conhecemos como Recursos Humanos. Mesmo com o discurso moderno de
“transformar recursos em talentos”, a essência da área continua a ser de
serviço. Mas há formas distintas de servir: o RH Ligador e o RH Recebedor.
O RH Ligador é proativo.
Antecipando problemas, resolve-os com agilidade. Atua com naturalidade em
mediações e trata todos os níveis da organização com equidade. Este RH cultiva
ambientes colaborativos, fomenta a partilha de experiências e estimula o
desenvolvimento pessoal e coletivo. É promotor de cultura, defensor de causas,
caçador de talentos, parceiro estratégico e agente de mudança. Está sempre à
procura do equilíbrio entre o capital e o trabalho.
Já o RH Recebedor, que
aqui chamamos de “RH Niemeyer”, é mais contemplativo do que participativo – tal
como as obras do arquiteto: bonitas, mas distantes. Este tipo de profissional
fecha-se no seu espaço, dedica-se ao próprio currículo e à imagem que projeta
online. Sabe muito, mas age pouco.
É comum vermos grupos de
RH reunirem-se para debater metodologias e tendências com pompa académica, mas,
terminado o encontro, pouca coisa se concretiza. O RH Ligador transforma
ideias em ação. Já o RH Recebedor adia, sempre à espera de um “momento mais
oportuno”.
Num cenário onde os
orçamentos para áreas de apoio são cada vez mais reduzidos, o RH Ligador sabe
distinguir o que pode esperar e o que precisa de ser implementado já. Guarda
boas ideias para a hora certa. O RH Recebedor, por outro lado, força ideias mal
amadurecidas, queimando boas iniciativas por falta de timing ou consistência.
Enquanto um RH Ligador procura ajuda em redes profissionais apenas quando precisa verdadeiramente, o
RH Recebedor dispara pedidos genéricos – “podes mandar para mim também?” – sem
saber bem o que está a pedir.
A verdade é que, na
gestão de pessoas, não há limites – só possibilidades. Por isso, deixo a
provocação: vais continuar a ser um RH Recebedor ou vais assumir o papel de RH Ligador,
que transforma realidades?
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